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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Anjos, Querubins e Ser-afins...


Começo dizendo como é frustrante ver que a velocidade dos ponteiros do relógio é diametralmente oposta ao tamanho das nossas ansiedades. Não só o tempo se relativiza, mas também as circunstâncias que nos cercam perdem a razão, fazendo tudo parecer desfocado, distorcido, insólito com num sonho, parecendo os relógios derretidos do quadro de Salvador Dali, aquele... ah sim, bendito Google, acabei de achar, ‘A Persistência da Memória’.

TUDO é muito rápido, mas parece uma eternidade. Você olha para o relógio e o ponteiro insiste em não andar, você olha ao lado e vê diversos rostos sofridos, tentando esboçar um sorriso amarelo para espantar a angústia e a dor, conversando baixo sobre o outro que acabou de chegar, irritados com alguns que agem como se estivessem em uma festa, não respeitando a dor dos outros presentes. Mas na verdade ninguém acha que o outro está sofrendo mais, pois a dor é pessoal, nenhuma é igual à outra.

Uma senhora de rosto triste e sofrido, usando roupas surradas, mas bem limpas, cabelo preso, possivelmente crente, tirou de uma sacola um objeto de madeira feito à mão com alguns pregos batidos. Todos olharam e ficaram interessados em ver o que ela iria fazer com aquilo. De outra sacola ela tirou alguns pedaços de lã pretos, vermelhos e brancos e começou a laçar os pregos com estas linhas. Ela se tornou o centro de nossa atenção, pois até então nosso foco era para os dois policiais que olhavam para nós, achando que iríamos entrar na sala onde estava o homicida de sucesso, mas suicida fracassado, que estava deitado em uma cama com uma bala na cabeça. Este não merecia as lágrimas da irmã, que com seus dentes amarelados como a pele, triste pela dor do não entender o que havia gerado aquela desgraça toda, aguardava por notícias. Incrível como estas coisas acontecem. Sua esposa sangrou até morrer com o tiro no ombro dado por ele durante uma briga.

Tentaram me ligar mas apenas ouvia falarem comigo. Eu falava mas não me ouviam. Isto confirmou que tudo aquilo era surreal, como nos meus piores sonhos. Desliguei o celular e voltei a sintonizar o canal da senhora bordadeira.

De repente surgiram três rapazes uniformizados andando com pressa a procura de alguém. Senti que eles queriam a mesma coisa que eu. Eles tinham a aparência de anjos, mas com as asas escondidas para não chocar os presentes. Conheço anjos, sei como eles costumam ser discretos. Falei um nome e realmente minha impressão estava certa. Era a mesma pessoa. Mostrei onde ela estava e eles se dirigiram ao local. Animei-me, apenas por saber que o relógio havia dado mais um tic com a chegada deles.

Após uma pequena eternidade (10 minutos para um ansioso, conforme a regra acima...) uma mulher bonita que eu havia conhecido àquela manhã (o querubim responsável pelo plantão de 2a. a 4a., disfarçado para variar) veio em minha direção e disse que havia chegado a hora de fazer a pequena viagem, mas que eu deveria ficar do lado de fora para que quando saíssem não me esquecessem. Afinal de contas, a carga preciosa tinha prioridade e eu estava lá apenas por uma formalidade.

Aguardei do lado de fora e enfim me chamaram para a viagem. Aguardei os últimos ajustes, me chamaram para sentar no banco da frente e saímos.

Olhei para o lado mas não conseguia falar nada. O anjo ao meu lado tinha uma missão muito importante a cumprir. Seu olhar sério e ao mesmo tempo terno me fez ver que eles realmente eram enviados de Deus para aquela missão. Ele colocou uma música para tocar, uma música triste que costumava ouvir todos os dias, mas evitava pensar que um dia a ouviria novamente sendo tocada para algum amado meu.

Fiquei tenso, mas vi que o melhor era me calar. Não conseguia abrir a boca para não atrapalhar nosso amigo ao lado. Mesmo que quisesse não conseguiria falar nada, a voz havia sumido. À medida que avançávamos notei que todos que ouviam aquela música de uma certa maneira se prostravam, indo para a direita ou para a esquerda, abrindo caminho para passarmos. Ora ou outra alguns à nossa frente não entendiam o refrão, então ele mudava a música ou o ritmo. Os desavisados entendiam o recado e saiam para o lado, subiam nas calçadas, abrindo caminho. Eu agradecia a cada um deles em meus pensamentos, cada vez mais emocionado.

Aquele caminho era conhecido meu, mas nunca havia trilhado ele antes dentro de uma nuvem. O anjo ao meu lado rompeu o silencio e disse: “estamos chegando”. Eu sabia que estávamos, mas aquilo me fez um bem muito grande. Olhei para trás e lá estava ela, ao lado de um anjo e de um querubim. Estavam calmos, sabiam o que estavam fazendo. Aquilo amenizou minha dor.

Próximo ao local que até então não tinha notado que era como o colo de Deus eles desligaram a música para não incomodar outros que estavam lá descansando. Entramos com a nuvem e logo desci, primeiro que os anjos. Queria vê-los em ação novamente.

Olhei para ela mais uma vez e pude ver que brilhava como a esperança.

Caminhamos até uma sala que não me era permitido entrar. Os seres angelicais que estavam comigo conversaram sobre a recém chegada com os outros que estavam esperando por ela. Era uma língua desconhecida, estranha. Se despediram e vieram até mim. Pediram para eu aguardar os outros anjos analisarem tudo minuciosamente do lado de fora.

Despedi-me do doutor e dos dois motoristas da ambulância. Um deles bateu em meu ombro, mas não falou nada. Agradeci a ele por tudo o que tinham feito pela minha mãe com os olhos cheios de lágrimas e pedi que ficassem com Deus. Contido, ele deu um sorriso disfarçado e se foi. Eram apenas 15:00hs e ainda tinha vários pacientes para serem transportados naquele dia. O trajeto do Hospital M'Boi Mirim até o Servidor Público foi feito em 30 minutos.

Quando eles deram as costas para mim e andaram em direção à porta de saída da emergência do Hospital, pude notar que sob seus uniformes realmente haviam asas.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Should I stay or should I go...


Creio que uma das piores sensações que o homem (a espécie, não o sexo) pode sentir é a da impotência. Aqueles momentos que você quer deslanchar, quer resolver as coisas, ir em frente, fechar um negócio, fechar um ciclo, começar um novo... Tem horas que parece que o céu está blindado, as portas estão fechadas, as coisas mais simples do mundo dão erradas ou simplesmente não acontecem.

É frustrante quando aquele negócio precisa apenas de uma assinatura de alguém e este alguém coloca seu processo lá embaixo na lista de prioridades dele e vai fazer outras coisas, é aquele email com a resposta para você poder bater o martelo e que simplesmente não entra em sua máquina, aquele telefonema que insiste em não tocar de seu lado... São tantas coisas que às vezes fica difícil manter a calma, permanecer lúcido e continuar crendo que as coisas vão acontecer.

Acho que o pior disso tudo vai muito além do acontecer e do não acontecer. Para mim o pior é tentar entender a razão. Algumas vezes creio que todas as portas abertas em minha frente são o sinal de ‘go ahead’ de Deus, falando ‘vai que é tuuuuuuuuuaaaaaa Tafarel!!!!’ Aí eu entro pela porta e de repente descubro que aquilo era não uma porta e sim um abismo e que nem sempre tudo abertinho em minha frente era o ‘amém’ de Deus para eu seguir aquele caminho.

Mas tem o outro lado também. Quantas vezes vejo as portas lacradas e insisto em tentar abri-la até que descubro o segredo da fechadura para poder entrar! Meu lado MacGyver é muito forte...

É isso que me deixa como estou neste momento... Estou vivendo um momento no qual algumas portas estão abertas mas não me sinto à vontade para entrar, e tenho outras portas que aparentemente estão fechadas mas percebo que com um pouco mais de insistência posso entrar e ver se o que está lá dentro me interessa ou não.

Quando você tem alguns kilômetros de estrada começa a ficar meio ligeiro com as coisas. Aos meus 40 anos cada vez menos posso me dar ao luxo de trocar bispos e torres sem ter claramente à minha frente a visão de que o cheque-mate será certo. Não posso menosprezar a astúcia de meu adversário. Não posso querer correr atrás de coisas que não tenho certeza que poderei alcançar. Ficar no meio do caminho sem gasolina não me é mais permitido. Não posso dar errado.

É por isso que estou assim. Tenho coragem de pular de cabeça, mas não tenho estrutura óssea para agüentar o tranco. Não quero ficar aleijado em uma cama, dependendo dos outros para tudo. Quero o que é meu. Quero alguns verões em minha vida. Estou cansado dos muitos invernos. Cansei de correr atrás das luzes como as mariposas fazem e acabam queimadas pelo calor. Não quero mais fazer asas de cera para voar em direção ao Sol, deslumbrado pela luz e calor que preciso.

Meu coração está triste. Meu espírito está triste, minha alma está triste. Tenho promessas grandiosas e sei que elas se cumprirão em minha vida pois Quem prometeu é Fiel para cumprir. O problema é discernir o tempo.

Só preciso de uma luz.

Deus... está em suas mãos.