Domingo a noite estava assistindo um debate na Rede Boas Novas sobre o tema: “Haverá Criancinhas no Inferno?”. Dois senhores (teólogos, pastores? Não lembro...) e o apresentador tentavam chegar a um consenso sobre o assunto. Eu ficava agoniado com o raciocínio quadradinho apresentado, pois eles – de alguma forma – concordavam com a predestinação de maneira fria, isentando-se de raciocinar e colocando tudo na conta de Deus, o monstro da história.
Falando o que assisti com minhas palavras, eles diziam que Deus tinha o direito de fazer o que bem entendesse e o homem não tinha o direito de questionar. Algumas boas perguntas foram feitas, creio que por telespectadores. Uma delas era sobre as diversas vezes que Deus orderara seu exército a invadir uma nação e matar todos, de velhos a animais, passando por mulheres e crianças, sem piedade. Neste caso, Deus estava automaticamente condenando aquelas crianças que – teoricamente – não haviam tido tempo para pecar ao inferno?
A linha de resposta seguia este argumento da predestinação, ou seja, não havia uma resposta conclusiva, ficando ao “Deus dará”... Temas como “e aqueles que morreram antes de Jesus e não tiveram contato com a Graça também estão no inferno?” (baseados na premissa que Deus tinha deixado uma “brecha” em seu plano de salvação, omitindo os “before Christ” da lista) eram respondidos de maneira árida, longe da Graça que me foi apresentada neste tempo de caminhada cristã.
Baseados no princípio da predestinação, chegaram a expor o argumento/levantar a questão que “se Deus já criou uns que vão para o céu e outros para o inferno, não há necessidade de arrependimento e conversão. No final de tudo, cada um irá trilhar para o destino que lhe fora reservado desde a eternidade”. Eles discordavam entre si sem, entretanto, apresentar uma resposta que saísse desta equação simplista de forma satisfatória.
Como eu disse antes, estava agoniado, na ponta da cadeira, gritando à tela da TV as respostas que tenho para mim sobre o (s) tema (s) apresentado (s). O que se ouvia deles era somente este argumento de disco riscado, “Deus escolhe quem Ele quer e o homem não tem o direito de questionar”.
Sei que existem algumas passagens bíblicas que podem dar a entender que Deus, literalmente, escolhe alguns para o céu e outros para o inferno:
"Ai daquele que contende com seu Criador, daquele que não passa de um caco entre os cacos no chão. Acaso o barro pode dizer ao oleiro: 'O que você está fazendo?' Será que a obra que você faz pode dizer: 'Você não tem mãos’?” –
Isaías 45.9“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou.” –
Romanos 8.29-30"Eu sempre os amei", diz o Senhor. "Mas vocês perguntam: 'De que maneira nos amaste?' "Não era Esaú irmão de Jacó?", declara o Senhor. "Todavia eu amei Jacó, mas rejeitei Esaú. Transformei suas montanhas em terra devastada e as terras de sua herança em morada de chacais do deserto." –
Malaquias 1.2-3Existem mais passagens, mas agora não lembro onde estão. Entretanto, estas três já são mais do que suficientes para apresentar Deus como o grande manipulador dos seres humanos, escolhendo de antemão alguns e rejeitando outros.
Todavia, meu ponto de vista perante este assunto delicado tem como base alguns atributos inerentes à pessoa de Deus:
1) Deus é eterno;
2) Deus é onisciente;
3) Deus é Amor.Isso posto, vamos amarrar as coisas:
1) ETERNIDADE: Deus não está preso ao tempo humano. Para Ele não existe ontem, hoje ou amanhã. Tudo está diante Dele.
2) ONISCIÊNCIA: Por não estar preso ao tempo, Ele “já sabe” tudo o que vai acontecer, INCLUSIVE, quem vai amá-lo e quem vai rejeitá-lo.
3) AMOR: Mesmo assim, Ele criou todos com as mesmas chances de tê-lo como seu Deus e aceitar seu Filho como Senhor e Salvador.
Desta forma, defendo a tese de que
“A PREDESTINAÇÃO EXISTE NA ONISCIÊNCIA DE DEUS (ele simplesmente sabe quem vai e quem não vai aceitar!!!)
E NÃO FRUTO DE SEU CORAÇÃO INSENSÍVEL”. Se assim fosse, Deus não seria digno de ser amado e respeitado. Estaríamos em um jogo de cartas marcadas, numa roleta viciada, fazendo o papel de bobos, perdendo tempo em amá-lo. Sairíamos de fábrica com todos os opcionais para ser “crentes”, não havendo necessidade de arrependimento e conversão.
Certo. E quanto àqueles que morreram antes de Jesus vir ao mundo? E quanto àqueles que vivem em tribos isoladas nos cafundós do Judas e nunca tiveram a oportunidade de ouvir uma sílaba das Boas Novas? Deus pisou na bola com estes?
NÃO! Não creio desta forma. Creio em algumas variáveis que apontam para o amor e a justiça divina nestes casos.
No coração do homem, mesmo o mais perverso dos perversos, perdido no canto mais remoto do planeta, existe o discernimento do que é bom ou ruim, pois somos todos criados à imagem de Deus, sendo que esta imagem obviamente não é física (Gênesis 1.26a).
Por esta razão, dentro do coração do homem, algo diz a ele que determinada atitude tomada é certa ou errada, mesmo que ele nunca tenha triscado em uma palha da mensagem de salvação. Julgado por sua consciência (faça uma análise de Romanos 14 para entrar na viagem, principalmente os versículos 12, 22 e 23), ele sabe que errou e de certa forma pode se arrepender ou não. Ao morrer, aguarda o julgamento final tendo como álibi não ter tido contato direto com a Graça que nos foi dispensada, mas com esta “imagem de Deus” dentro de si (tenham paciência, a viagem ainda vai fazer algum sentido...).
Estes que morreram antes de conhecer Jesus, seja por não ter sido apresentado o Evangelho, seja por ter sido antes de sua vinda em carne, de alguma forma têm acesso a Graça em algum momento de sua história. Creio nisso firmemente, principalmente pelo que leio em
1Pedro 3.18-22:
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo mas vivificado pelo Espírito no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês - não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus - por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que subiu aos céus e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes.” O quê significa “Ele foi morto no corpo mas vivificado pelo Espírito no qual também
FOI E PREGOU AOS ESPÍRITOS EM PRISÃO que há muito tempo desobedeceram”?????
Só consigo entender uma coisa: Deus é AMOR. Não iria deixar aqueles que não tiveram este contato com seu Filho na mão. Todos, indiscriminadamente, tiveram contato com Jesus. Quer em vida, quer após a morte.
Vão me bater, vão me excomungar, vão vir com milhões de argumentos teológicos que não saberei responder. Tenho apenas para mim a resposta do cego de nascença aos seus inquisidores em relação a quem era Jesus, contida em
João 9.24-25:
“Pela segunda vez, chamaram o homem que fora cego e lhe disseram: "Para a glória de Deus, diga a verdade. Sabemos que esse homem é pecador". Ele respondeu: "Não sei se ele é pecador ou não. Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo!"Com isso quero dizer que Deus, em sua infinita bondade e justiça, não se “contradiz”, dando chance a todos a alcançarem sua salvação. A porta sempre esteve aberta e o ser humano tem a opção de entrar ou não, mesmo sendo uma criança. Como isso funciona são outros 500, mas não deve ser muito diferente do que eu creio. Se for, no problem, Deus é Deus e sei que Ele sabe como fazer as coisas...