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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ingratidão


A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia. Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: "Jesus, Mestre, tem piedade de nós!" Ao vê-los, Ele disse: "Vão mostrar-se aos sacerdotes". Enquanto eles iam, foram purificados. Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano. Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?" Então Ele lhe disse: "Levante-se e vá; a sua fé o salvou".Lucas 17:11-19

Estou escrevendo meio sem estar com vontade de escrever, tá ligado? É que li este texto hoje pela manhã e ele ficou em minha cabeça... Quando isso acontece, tenho que obedecer, mesmo sem saber onde isso vai dar.

Entretanto, depois de uma pausa de algumas horas – já com o texto bíblico colado em uma página em branco e sem eu saber como começar estas linhas (o parágrafo anterior foi escrito às 9 da manhã e agora são 2 da tarde!) – li e reli este acontecimento narrado nos Evangelhos e uma palavra veio à minha mente: INGRATIDÃO. Acho que é sobre isso que o Senhor quer falar, principalmente comigo.

Indo direto ao ponto, quantas vezes eu me deito e levanto no dia seguinte sem me dar conta que o simples fato de acordar mais um dia é um milagre de Deus? Estou trabalhando, acabei de almoçar, disponho de um tempo para escrever, estou com saúde, etecétera e tal. E lógico que tenho inúmeros problemas em diversas áreas, mas - até nisso - o Senhor me abençoa com Seu Espírito em mim, dando-me graça, sabedoria, mansidão e discernimento para decidir e tomar os melhores (ou “menos piores”, dependendo do caso) caminhos.

Então, onde está o problema? Para quê ficar murmurando, revoltado com algumas situações que certamente podem mudar o destino da humanidade, tipo, “pô, o Corinthians empatou aos 48 do segundo tempo!”, “será que eu vou ter dinheiro para ir no show do Kiss em junho e viajar de férias em Julho?”, “quando chegar em casa vai ter água hoje? (típico problema de quem mora na Zona Oeste do Rio)”.

Tenho é que louvar a Deus, pois enchi a máquina de lavar roupa e o tanque com água esta manhã, antes de sair para o trabalho, tendo a bendita e tão esquecida (só lembrada quando falta) por ao menos 4 dias, não dependendo assim do fornecimento externo. Talvez isso não faça sentido para alguns de nós, mas para mim passou a fazer desde que mudei para o RJ.

Na verdade estamos acostumados às pequenas conveniências da vida de apenas chegar, apertar um botão e a luz acender, abrir a torneira e cair água, abrir a geladeira e os armários e encontrar comida e bebida suficiente para pelo menos algumas semanas. Achamos que isso simplesmente tem que ser assim, como se fosse obrigação de Deus para conosco!

Faça um teste a nível intelectual, pois não creio que teríamos coragem de agir desta forma: Abra o guarda roupas e veja que – se pararmos de comprar roupas hoje e só voltar a fazê-lo quando todas não mais tiverem condições de uso, estaremos vestidos razoavelmente bem por pelo menos 4 anos! Por qual razão nos deixamos ser consumidos por um modelo social e econômico que nos impulsiona a gerar todos os dias novas necessidades/banalidades? Não preciso ir ao mercado hoje! Não preciso me preocupar com aquilo que o Senhor disse que nos daria de bom grado, caso buscássemos em primeiro lugar Seu Reino e Sua Justiça!

Cacete, sou muitas vezes ingrato. Rolou a greve da PM aqui e nada nos aconteceu. Sexta comi pizza (mesmo que horrível, pois aqui não sabem fazer), sábado fui ao Outback com minha mulher e minha sobrinha, na geladeira tenho várias garrafas de vinho e durante as noites tenho tido espetáculos maravilhosos proporcionados por Deus, vistos da varanda do apartamento onde moro, lindas noites de verão, o ar fresco, estrelas e nuvens cor-de-rosa fazendo seus desenhos aleatórios no céu! Todavia, prefiro me ater ao problema do bar em frente de casa com sua gritaria e a música alta. É sério, perco muito tempo e fico muito irritado com questiúnculas...

Não quero deixar de ser grato a Deus. Tenho que retornar ao hábito de agradecer ao Senhor por TUDO, pois mesmo o que parece estorvo e desconforto é proporcionado e/ou permitido pelo Pai para que cresçamos um pouquinho mais a cada dia. Isso me faz lembrar das palavras de Paulo:

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.Romanos 5:1-5

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Porventura sou eu Senhor"?


“E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair. E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou eu, Senhor? E ele, respondendo, disse: O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair”. – Mateus 26:20-23

Como é duro lidar com a fraqueza de caráter e valores daqueles que convivem conosco. Pode ser desde o fulano que você mal conhece e que te ferra num determinado momento em que os dois se cruzam no caminho, como o motorista que não para no ponto que você vai descer, o vendedor que te atende mal, a pessoa que te irrita do e por nada, mas que você – teoricamente – nunca mais vai cruzar com ela, o que faz com quê aquilo te afete apenas momentaneamente, até aquela pessoa que faz parte de seu convívio diário, que caminha com você todos os dias, como um colega de trabalho, um parente, um familiar.

Estes são os que têm o poder de realmente nos ferir, pois partimos do pressuposto de que quanto maior o laço que nos une, mais escrúpulo, respeito e amor devemos ter com eles. E não que não tenhamos com os demais, pois nossos valores estão entranhados em nosso ser. O fato é que – sendo sincero – é muito mais fácil você mandar à merda a pessoa “que pisa no seu pé” do que a um ente querido.

Como dói lidar com as coisas que chegam aos nossos ouvidos. Como ficamos arrasados com as picuinhas que nos cercam. Como é difícil aceitar que as pessoas te tratam da melhor maneira possível pela frente (isso quando tratam), mas não pensam duas vezes para servir sua cabeça em uma bandeja de prata num banquete.

É horrível descobrir que pessoas que você ama te tratam bem pela frente mas metem o pau na sua ausência. O pior: Esquecem (ou não se importam, o que é pior) que aquilo possivelmente vai chegar aos seus ouvidos.

Isso me lembra de uma frase que aprendi no curso de inglês que – traduzida – diz mais ou menos assim:

Pessoas inteligentes falam sobre idéias
Pessoas comuns falam sobre coisas
Pessoas medíocres falam sobre pessoas...


Não consigo aceitar o fato de que “pessoas que põem comigo a mão no prato”, assim como Judas fez com Jesus, não pensam duas vezes na hora de te vender por algumas moedas. Por outro lado, também está escrito que:

“Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu Nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”. – Mateus 10:19-22

É assustador ver que estamos vivendo estes momentos. Lemos e entendemos, sabemos que estas coisas acontecem não somente em novelas, mas, quando é conosco, temos que recontextualizar os fatos, trazer à nossa existência mais uma passagem bíblica que infelizmente começa a se concretizar.

Acima da experiência negativa da traição, da maledicência, da fofoca e outros vícios morais, está o fato de que quem está fazendo isso são pessoas que você ama – ou seja – estas pessoas estão terrivelmente doentes, precisando se libertar das garras do inimigo, o grande acusador que os vem usando sem que se dêem conta disso mas, pensando bem, o apóstolo Paulo disse:

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”
Gálatas 5:19-21

Pensando bem então, isso é obra da carne e o diabo não tem culpa... coitado dele! Isso é natureza humana não tratada, não convertida, não nascida de novo...

Pior, muito pior, pois não adianta orar para que um demônio se manifeste e seja expulso. Uma mudança de atitude nesta área envolve a vontade da própria pessoa. Sei que não adianta peitar, por mais que se tenha como “acabar com a pessoa na argumentação” (e sou “bom” nisso, seria um advogado fdp se me enveredasse nesta profissão). Se fossemos tirar satisfação das pessoas que nos ferram por trás (sem duplo sentido), bem o faríamos pensando na carne, mas colocaríamos engrenagens em movimento que prejudicariam outras, em várias esferas.

Será que temos que agir como nosso Senhor? É uma pergunta idiota, sabemos a resposta, mas é difícil querer aceitar isso! É difícil, dói demais agir como está escrito em Isaias 53:7, que diz que “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”...

Senhor, é difícil agir assim, tá doendo e eu preciso de sua Graça...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Orem pelo Rio de Janeiro


“Ora, naquele mesmo tempo estavam presentes alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios deles. Respondeu-lhes Jesus: Pensais vós que esses foram maiores pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. Ou pensais que aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E passou a narrar esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás.” - Lucas 13:1-9

Este é um daqueles textos bíblicos que lemos mas que, aparentemente, não tem nada a dizer diretamente a nós, até o momento em que há uma conjunção entre os fatos cotidianos e o insight do Espírito Santo, traçando uma ponte entre os fatos.

Quando li este texto esta manhã confesso que me assustei com o que entendi. Vivendo neste contexto complexo que é a cidade do Rio de Janeiro, não tive como não fazer uma ponte imediata entre a Palavra e tudo o que tenho visto por estes lados.

De cara, quero que me entendam: Não pensem que estou fazendo uma leitura preconceituosa em relação a esta cidade, muito menos espero estar passando uma idéia religiosa de alguém que crê num deus (dê minúsculo) de causa e efeito, mas sim de um Deus que não age somente por Justiça, mas que – acima de tudo – age com Graça, Misericórdia e AMOR.

Isso me faz lembrar de um interessante diálogo entre o Senhor e Abraão:

“Disse-lhe, pois, o Senhor: "As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas e o seu pecado é tão grave que descerei para ver se o que eles têm feito corresponde ao que tenho ouvido. Se não, eu saberei" Os homens partiram dali e foram para Sodoma, mas Abraão permaneceu diante do Senhor. Abraão aproximou-se dele e disse: "Exterminarás o justo com o ímpio? E se houver cinqüenta justos na cidade? Ainda a destruirás e não pouparás o lugar por amor aos cinqüenta justos que nele estão? Longe de ti fazer tal coisa: matar o justo com o ímpio, tratando o justo e o ímpio da mesma maneira. Longe de ti! Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?" Respondeu o Senhor: "Se eu encontrar cinqüenta justos em Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles". Mas Abraão tornou a falar: "Sei que já fui muito ousado ao ponto de falar ao Senhor, eu que não passo de pó e cinza. Ainda assim pergunto: E se faltarem cinco para completar os cinqüenta justos? Destruirás a cidade por causa dos cinco?" Disse ele: "Se encontrar ali quarenta e cinco, não a destruirei". "E se encontrares apenas quarenta?", insistiu Abraão. Ele respondeu: "Por amor aos quarenta não a destruirei". Então continuou ele: "Não te ires, Senhor, mas permite-me falar. E se apenas trinta forem encontrados ali?" Ele respondeu: "Se encontrar trinta, não a destruirei". Prosseguiu Abraão: "Agora que já fui tão ousado falando ao Senhor, pergunto: E se apenas vinte forem encontrados ali?" Ele respondeu: "Por amor aos vinte não a destruirei". Então Abraão disse ainda: "Não te ires, Senhor, mas permite-me falar só mais uma vez. E se apenas dez forem encontrados?" Ele respondeu: "Por amor aos dez não a destruirei". Tendo acabado de falar com Abraão, o Senhor partiu, e Abraão voltou para casa”. – Gênesis 18:20-33

Para mim, traçar um paralelo entre as palavras de Jesus, o diálogo entre Deus e Abraão quanto as acusações contra Sodoma e Gomorra e o que tenho visto aqui no Rio de Janeiro é algo (infelizmente) natural, ao mesmo tempo em que me constrange, me deixa pisando em ovos, com “medo de apanhar” do pessoal, mas – antes e acima de tudo – com uma coisa queimando dentro de meu peito, me impulsionando a escrever.

Outro dia sonhei com o prédio em que eu moro. No sonho, estava na sala do “nosso apartamento alugado” e notava que as paredes começavam a se esfacelar aos poucos, como se fossem feitas de areia. Conseguia olhar entre uma parede e outra através das frestas que se abriam, via o que acontecia no apartamento ao lado, sentia que devia sair correndo dali antes que desabasse tudo, mas estranhamente temia ir para a rua por não me sentir seguro perante as pessoas que – naquele sonho – eram hostis a mim.

Puta viagem, talvez você diga...

Também acho, respondo eu. Entretanto, confesso que depois daquele sonho passei a sentir um desejo imenso de sair de lá. Todavia, não me via saindo de lá e indo para outro lugar no Rio, ao mesmo tempo em que não queria sair da cidade. Acho que me senti como inicialmente deve ter se sentido Ló ao receber a instrução de sair de casa levando todos os seus amados antes do Senhor colocar abaixo tudo aquilo.

Isso foi (e está) crescendo dia a dia dentro de nós (a Cilene compartilha das mesmas “sensações”) e temos orado para que Deus nos mostre a melhor opção, pois estamos falando de mudança literal, e não de uma coisa qualquer.

Voltando ao início de tudo (o texto de Lucas), não tive como não ler o texto e não me lembrar do prédio que caiu “do nada” no Centro do Rio de Janeiro. Quem estava no prédio não eram maiores pecadores do que os que estavam do lado de fora. Entretanto, o prefeito Eduardo Paes disse algo que veio ao encontro do que eu – temendo e tremendo – tenho visto aqui no Rio de Janeiro, quando quatro (isso foi o que conseguiram flagrar, certamente muitos mais) funcionários da concessionária do Porto estavam roubando dos entulhos os pertences das vítimas:

"Eu acho que são uns delinqüentes. Ali está a miséria humana retratada. É inacreditável que alguém numa situação como essa vá roubar --aquilo é roubo-- de um entulho vindo de uma tragédia como aquela. Eu vejo com muita tristeza, com uma certa raiva. Os nomes já foram passados para a polícia e eles serão demitidos da concessionária lá do Porto"


Aqui no Rio de Janeiro impera a Lei de Gerson: O IMPORTANTE É LEVAR VANTAGEM EM TUDO. Se tá bom para mim, FODA-SE O RESTO. Isso está impregnado no ar. Isso você vê todos os dias em todas as áreas possíveis, do lixo jogado na praia ao motorista que costura, fecha, xinga, estaciona sobre a calçada ou de qualquer jeito e acha que está certo. A sensualidade exacerbada impregna o nariz de quem não compartilha dos mesmos “valores”. Você não pode reclamar do bar em frente à sua casa por ele estar tocando funk nas alturas durante toda a madrugada. Literalmente, eles te ameaçam e você se torna refém dentro de sua casa.

Hoje mesmo, dentro do Terminal Alvorada, tinha um pedestre dando porrada no vidro de um ônibus parado, enquanto discutia com o motorista em altos brados/palavrões. Ninguém fez nada. Assim como ninguém faz nada quando bueiros explodem e ceifam vidas. Assim como a Gilka Machado é um campo de entulho e podridão pelo fato dos moradores jogarem seus dejetos embalados em sacolas plásticas de supermercado no meio da rua. Mendigos, cachorros e urubus disputam o prêmio e – cada vez mais – me sinto menos “gente” por estar inserido neste contexto e não poder falar nada sem correr risco de vida.

Não pensem que estou exagerando. Aqui, a inversão de valores é gritante. A mãe, na porta do boteco, chama seu filho de filho da puta (ela certamente sabe de quem está falando) por ele estar chorando, enquanto ela toma todas às altas horas da madrugada. O marido, outro cachaceiro, olha aquilo tudo com a maior naturalidade. A mesma mãe, já com os filhos despachados, começa a gritar, falar putaria, discutir e – quando um vizinho reclama da gritaria por estar com a esposa doente em casa – é ameaçado e xingado por todos os cachaceiros... “desce aqui seu filho da puta!” ou “a rua é pública porra!”. Ao final da discussão, ela chama outro homem para ir beber com ela em outro bar, na frente do marido, dizendo “vamos lá fulano, meu marido não quer ir e eu quero sair. Hoje eu vou pagar para macho sair comigo, vamos! Vamos! Ele não manda em mim!”...

Outro dia, no mesmo bar, um homem mordeu o olho de uma mulher (sim, mordeu o olho que enxerga, na cara...) numa briga, arrancando sangue, enquanto os dois rolavam no meio do pó da rua. No bar, todos olhavam, alguns riam da situação, ninguem fez nada, tirando eu, que tive a infeliz idéia de ligar para o 190. Em resposta, o dono do bar intimou minha mulher na entrada do prédio, dizendo que "alguém tinha ligado para a polícia e ele iria descobrir quem tinha ligado e denunciar nosso prédio por este não RGI", o que - em São Paulo - chama-se de Habite-se...

Poderia citar zilhões de pequenos dramas testemunhados por mim, mas não creio ser necessário. Há três anos vejo esta figueira não dar frutos, frutos de arrependimento, frutos de um espírito coletivo que indique a possibilidade de alguma mudança. Esta é a cidade que vai receber Copa do Mundo e Olimpíadas. Esta é a cidade que está sendo totalmente repaginada, mas que não tem um alicerce moral que indique que a mudança da fachada virá acompanhada de uma metanóia, de uma mudança de pensamentos e de valores.

Estou no Rio a 3 anos. Coincidência demais para mim, pois a três anos procuro frutos nesta figueira. Por mais um ano, (não literalmente, mas espiritualmente... no contexto de “para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos são como um dia...”) o Senhor permitirá que a terra seja adubada com estrume. Caso ela continue não gerando frutos, esta figueira será cortada.

Orem pelo Rio de Janeiro. Orem por nós, que aqui estamos. Está doendo escrever isso, mas é o que tenho recebido do Senhor...