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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Judas: "Por acaso sou eeeuuu Senhor?"


“E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair. E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou eu, Senhor? E ele, respondendo, disse: O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair.” - Mateus 26:20-23

Oficialmente eles eram doze. Alguns foram chamados por Jesus no começo, outros um pouco depois, uns eram mais íntimos de Jesus, outros tinham outras participações na “logística” do ministério, mas todos andavam juntos com o Mestre, até o momento que as profecias a respeito do Messias deveriam se cumprir.

Tenho certeza que, independentemente da onisciência divina que habitava em Cristo, Ele – naqueles três anos de ministério terreno – sabia muito bem como era cada um deles, quem era de confiança e quem não era, quem aguentaria o tranco e quem arregaria. Mesmo assim, andou com eles, agüentou suas dúvidas, reclamações, picuinhas, disputas internas para saber quem seria o maior no Reino de Deus e todas as outras inúmeras fraquezas humanas que não foram registradas nos Evangelhos.

Ao mesmo tempo que Jesus expulsava demônios, curava todos os tipos de enfermidades, ressucitava os mortos, multiplicava os pães e peixes e "pregava" mensagens maravilhosas (posso imaginar todos os seus seguidores babando!!!!), também dava a entender ou afirmava explicitamente que seria preso, abandonado pelos homens, morreria e ressuscitaria três dias depois. Eles, resumidamente, falavam “de forma nenhuma!”, mas este era seu ministério, esta era sua sina, este era exatamente o motivo pelo qual havia vindo como homem aqui na terra. Só que isso passou a incomodar alguns...

À medida que seu dia se aproximava, tomou o caminho de Jerusalém. Chorou pela cidade, por aquele povo que rejeitava e matava todos aqueles que eram enviados a ela em nome do Senhor. Entrou na cidade e foi recebido como Rei. O cerco se apertava e Ele pediu que alguns dos doze fossem à frente e preparassem um local para que pudessem estar juntos pela última vez, comendo e bebendo. E assim foi feito.

Na mesa, Jesus começou a conversar com eles, falar o que estava por vir e, logo em seguida, iria demonstrar o que isso seria através do partir do pão, que representava seu corpo, e do beber o vinho, que representava seu sangue.

Só que aquilo foi demais para alguns deles. Especificamente para Judas, que aguardava outro tipo de líder. Não um líder que se tornaria Rei num plano "metafísico", digamos assim. Ele esperava um líder militar e político que unisse todos os exércitos da Palestina e derrubassem o poder romano. Mas este não era Jesus.

Judas, em sua lógica mesquinha, sentiu-se “traído” por Jesus por ter entendido errado qual era seu real papel no plano divino e resolveu se vender àquele que ele – Judas – julgava ter mais poder para fazer a “revolução”.

“Traído e vendido”, vendeu por 30 moedas de prata àquele que não tinha preço: Seu líder, seu Senhor, seu Rei, seu Deus. Em sua loucura, realmente acreditou que aquilo era o que deveria ser feito e avançou cegamente em direção ao seu triste papel na história. Saiu da mesa para fazer logo o que ele teria que fazer, encheu o bolso e tomou a frente na mais sórdida tropa de assalto de toda história da humanidade.

Ao encontrar o Senhor da Vida, encenou pela última vez seu papel na trama. Só de pensar no que relatam os Evangelhos sinto ânsia. Melhor colocar aqui:

“E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?”
- Lucas 22:48

Após a prisão, humilhação, julgamento e morte de seu verdadeiro Rei e Senhor, aparentemente arrependeu-se, devolveu o dinheiro e se suicidou. Não necessariamente nesta ordem, eu sei. Triste fim.

Hoje, diversos homens e mulheres se prestam ao mesmo funesto fim. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Ele habita em nós e – através de nossas vidas – milhares de Judas encenam os últimos atos deste que se tornou sinônimo de traição. Ao traírem seus próximos, traem ao "Deus em nossas vidas". Eles tem nomes diferentes mas não se tocam que são iguais.

Normalmente, os Judas dos dias atuais são identificados por duas ou três semelhanças ao original: Traem seus pares enquanto dão seus beijos, se vendem por qualquer ninharia e costumam perguntar cinicamente, na tua cara, ao serem confrontados com o fato de todas as evidências apontarem para eles:

“Por acaso sou eu...?"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Eu creio mas tenho medo oras!


“E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio Senhor... Ajuda a minha incredulidade!”
Marcos 9:23-24

Hoje eu creio. Não cri sempre, mas fui obrigado à aprender a crer à medida que minhas possibilidades humanas, minhas estratégias, minhas recontextualizações mostraram-se ineficazes. Na prática, fui colocado na ladeira e me empurraram para aprender na marra.

Mesmo tendo visto milagres acontecendo ao meu redor, mesmo tendo orado por situações pessoais e de terceiros e visto a mão de Deus agindo poderosamente, na hora em que o problema está em seu clímax, quando estamos no olho do furacão, nossa fé é posta à prova e trememos.

Paradoxal, podem dizer. Crer acaba sendo um dom dado por Deus, mas – mesmo assim – cremos no meio de nossa própria incredulidade. Comparo o “medo em crer” com a sensação que temos quando ficamos na fila da montanha russa por horas, sentamos na cadeira e, na hora que o carrinho começa a subir, gritamos feito desesperados à cada descida, cada looping, cada emoção, por mais que acreditemos que o brinquedo é "seguro".

Da mesma forma, quando sentamos na poltrona de um avião e passamos por todas as instruções dadas pelos comissários de bordo quanto às medidas de segurança, apertamos os cintos e o avião taxia na pista, sendo disparado a mais de 250 km por hora na hora da decolagem. Quem garante que a aeronave sairá do chão no tempo certo? E na aterrissagem então? Ali sim, é a hora que eu mais temo! Será que os trens de pouso não sofrerão nenhum tipo de avaria? Será que a pista será longa o suficiente (quem usa o Santos Dumont e Congonhas sabe do que falo...) para que o reverso das turbinas sejam acionados e o grande pássaro de metal pare em segurança?

Nem por isso deixo de andar de montanha russa nem de voar. Algo dentro de nós diz que o brinquedo não vai quebrar logo na nossa vez, mesmo com o histórico de acidentes. Igualmente voar. Apesar de aviões terem um baixíssimo nível de acidentes, estes acontecem, mas cremos que não será em nosso vôo.

Este medo natural é por nosso instinto de sobrevivência. Somos humanos e espirituais. Conhecemos nosso Deus e sabemos que Ele está no controle de tudo, mesmo sabendo que as contingências da vida acontecem a todo momento ao redor do mundo. Não é pelo fato d’eu andar com Jesus que significa ter um seguro contra as contingências da vida. Ateus morrem da mesma forma que os que crêem, e não é por isso que deixaremos de crer.

Em outras áreas de nossa vida também temos esta certeza de que Deus está no controle de tudo, mas que – ao mesmo tempo – ficamos como quem pula de pára-quedas, aguardando que ao puxar a cordinha o bichinho abrirá como sempre. As guinadas que nossas vidas costumam dar, a incerteza sobre o trabalho, o sustento, a saúde, a segurança. Todos nós cremos que não ficaremos na mão, ao mesmo tempo que tememos.

Não acredito que Deus fique chateado conosco. Ele sabe que cremos, mas também sabe que somos pó, humanos imperfeitos, mas nem por isso deixa de nos inspirar para tomarmos as melhores decisões, providenciar livramentos quando precisamos, trazer uma provisão inesperada, uma cura...

Eu creio. Sei que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1), mas tenho SIM medo de ficar na mão, do avião não decolar, de perder algo que considero uma fonte de segurança ou sustento. Creio a ponto de crer (perdoe-me pela redundância, mas acho que aqui cabe) que Ele nos entende em nossas limitações. E, só assim, posso avançar como o pai do menino, crendo e pedindo para ele suportar minha incredulidade. Afinal de contas, não tenho como evitar o frio na barriga na hora que desço em alta velocidade na montanha russa da vida...