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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Honra teu pai e tua mãe...



Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. – Exodo 20-12

Quinta feira, 26 de Abril de 2012. Pelo meu computador, são 21:31hs. Era para eu estar agora no ponto de ônibus próximo ao Shopping Rio Sul, quase “do lado” da Unirio, Universidade Federal que entrei no Enem de 2010, estudando alegre e saltitantemente meu curso de Serviço Social, voltando de mais uma aula.

Entretanto, tranquei minha matrícula semana passada, em parte por não estar conseguindo chegar à tempo, devido ao fato de ter mudado a política de RH da empresa que trabalho, fazendo então que eu não conseguisse mais sair no horário que me tornava viável me deslocar da Barra da Tijuca até a Urca (quem conhece sabe...) em um horário razoalvelmente decente para assistir às aulas. O outro motivo, verão vocês, está entrelaçado às próximas linhas...

Cocei os olhos... como começar? Direto ou dizendo que o gato subiu no telhado? Creio que devo ser direto, pois estou aqui, nesta ociosidade que me permite acabar de ter saído da cozinha, fazendo algumas coisas que minhas queridas lumbrigas estavam ansiosas em comer, enquanto minha amada esposinha está cobrindo o horário de uma outra técnica de enfermagem que precisou se ausentar hoje.

Neste contexto, estava eu na varanda, entre uma mexida nas panelas e outra, quando comecei a lembrar de minha mãe, falecida em novembro de 2009 (pausa para colocar a mão em minha testa e sentir novamente toda a saudade...), vítima de um AVC que a deixou em coma por cinco meses (puta que pariu...), até ir de encontro ao Senhor...

O que me veio ao peito foi que, este que vos fala, sempre amou sua mãe. Entretanto, ela era a pessoa mais próxima de mim por um lado, extremamente distante por outro.

Isso pelo fato d’ela ter sido uma pessoa que sempre deixou extremamente explicito todos os sofrimentos que ela teve desde sua infância em Pernambuco (não lembro a cidade), quando seu pai costumava, entre uma garrafa de cachaça e outra, chegar em casa tacando o terror, pegando-a pelos pés e a jogando no quintal. Passou fome, lambeu sabão – literalmente – para tentar matar dita-cuja, fugiu por entre as caatingas juntamente com os irmãos e minha avó (que não cheguei a conhecer), tentando fugir de sua fúria etílica e desestrururada, como muitos outros de nós que conheço...

Este é o motivo de minha dissertação sobre estes assuntos tão íntimos, tão dilacerantes em meu peito! Só posso falar sobre isso agora, com 43 anos sofridos nas costas, pois HOJE EU ENTENDO MINHA MÃE, mas, com ela em vida, muito pouco eu demonstrei(tudo intercalado com suspiros e vergonhas retidas à anos aqui dentro)...

Ela era uma criança, roubada de sua infância, obrigada a encontrar um rumo à sua vida e vindo para aqui, São Paulo... (oooopsss.... São Paulo é lá, mas está aqui em meu peito Alvi-Verde, time que ela tanto amava e – segundo ela – era o “motivo” de tantas alegrias e decepções, mas sempre amado, assim como é por mim, mas isso é assunto para outro post...), arrumado um emprego em uma fábrica de chinelos, conhecido meu paizinho que continua firme e forte (apesar de T-O-D-A-S as inúmeras internações, comas e insistência em permanecer vivo...), casado e ter tido eu, a Lhêlha e a Ci, criado, cuidado do jeito que sua simplicidade e histórico anterior permitiu.

Ela casou e morou com meu pai e minhas irmãs em Moema, na Av. Lavandisca, até pouco antes d’eu nascer.... ai que ódio! Depois de acertar os 13 pontos da Loteria Esportiva (meu pai sempre teve um rabo homérico para jogos, mas parece que perdeu...), resolveram ir para o extremo da Zona Sul (Jardim Santa Margarida, Estrada do M’Boi Mirim, depois da curva do Figueira, quem conhece sabe...) pelo fato de São Paulo ter – naquela época – somente o Aeroporto de Congonhas (aaaaaaaaiiiii que saudade, mas me aguarde, em julho “I will be back!”), o que fazia um ruído tremendo e minhas amadas irmãs não conseguirem dormir com o barulho das constantes decolagens e pousos no dito-cujo aeroporto, fora o resto da história, onde papai simplesmente doou 90% do prêmio para “outras pessoas” (pense em quem pode ser, pois não quero ser excluído do convívio fam... não, não posso falar!!!!), tendo ficado – literalmente – na mão...

Diante do que foi posto, fica fácil entender minha mãe:

1) Não tinha nada;
2) Se fodeu;
3) Resolveu dar um rumo;
4) Conheceu papai;
5) Compartilhou o “pão seco”;
6) Ganhou muito;
7) (se fodeu de novo, perdeu tudo e...) 8) Voltou “à lona”...

E era adolescente, como alguns que me lêem agora. Como entender algo que somente após ter levado MUUUUITO na bunda alguém é capaz de entender? (no boteco em frente agora – 22:05 – está tocando The Smiths, um milagre, até para fazer sentido ao desabafo de um ex-adoslescente à época...)

Eu – através desta – confesso que tinha muito mais intimidade com minha mãe, mas tinha uma admiração louca por meu pai. Entretando, como costumo falar para a Cilene, “intimidade é uma merda”: uma relação onde costumamos saber o cheiro do peido da pessoa, onde conhecemos todas as virtudes e fraquezas de nosso super-heróis. Reluto em escrever, mas devo dizer que a primeira piriquita que reconheci com tal foi de minha mãe, fazendo xixi comigo no banheiro e ficando extremamente constrangida com minha reação, de olhos arregalados olhando para... “aquilo”, deixando-a extremamente envergonhada pela minha reação infantil e sendo punido ao não me permitir mais ir ao banheiro com ela... (Não quero expor ninguém, apesar de – talvez – estar falando demais. Todavia, também não quero deixar de compartilhar alguns fatos que podem trazer cura para muitos.)

“Cresci” (em tamanho), mas continuei carregando muita coisa aqui no meu peito. Não entendia muita coisa que passei a entender agora – 43 anos, drogado e prostituído...

Só queria dizer a vocês que talvez possa ser tarde demais para alguns, como eu, que devemos honrar nossos pais e mães. Renato Russo falou muito bem sobre isso em “Pais e Filhos”, vídeo que coloquei no início deste post. Nós vamos ser amanhã (no caso de alguns que me lerão) as crianças que eles se tornaram aos nossos olhos, olhos extremamente voltados ao nosso momento, olhos que não discernem o que eles sofreram, assim como nós “sofremos” com eles... Eles - sim – sofreram.

Nós somos um monte de merda, acostumados com tudo o que hoje o Estatuto da Criança e do Adolescente permite. Eles eram jogados pelos pés no quintal e obrigados a fugir pela caatinga, seja ela qual for.

Minhas caatingas – confesso eu – foram muito poucas. Passei algumas privações, não tive Autorama, não comi tudo o que gostaria de ter comido (no bom sentido, principalmente...), não tive “Rainha Futsal” e sim “Martiniano” (uma imitação grotesca), foram mais invernos do que verões em minha infância e começo de adolescência... todavia, quero que vocês amem e honrem seus pais, para que seus dias se prolonguem sobre a Terra.

Os dias são maus. O amor está se esfriando no coração de praticamente todos os que vivem nossos dias. Implantado o sistema que muitos de vocês defendem hoje, farão como muitos jovens chineses fizeram no século passado: Entregarão seus pais em prol de alguma “revolução” esquizofrênica, pois mais vale a dita-cuja do que aqueles que deram suas vidas por nós.

Tenho muito mais a dizer, só acho que não é a hora...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Não há como avançar olhando para trás


“Assim que os tiraram da cidade, um deles disse a Ló: Fuja por amor à vida! Não olhe para trás e não pare em lugar nenhum da planície! Fuja para as montanhas, ou você será morto! (...) Mas a mulher de Ló olhou para trás e se transformou numa coluna de sal.”Gênesis 19:19 e 26

Nunca é fácil tomar decisões, dizer “nãos”, fechar portas, virar páginas, derrubar o que foi mal edificado para reconstruir, aceitar perdas, ver outros ficando para trás enquanto avançamos, pois dentro de nós arde uma dor profunda, a dor de ver que quem esteve ao nosso redor não acompanhou nossos passos, não teve coragem de deixar os mortos enterrarem seus mortos, ficando velando os cadáveres de situações que não mais trazem vida por já terem perdido as suas.

Não há nada de amor ao próximo nesta aparente situação de solidariedade, pelo simples fato de não termos como fazer com que as pessoas que nos cercam aceitem trilhar o Caminho da Vida na marra, deixando para trás o que traz a morte e a destruição.

Muitos estão iludidos com as luzes das “Sodomas e Gomorras”, mas não se dão conta que estas luzes são fogo e enxofre caindo dos céus para sua destruição. Como continuar trilhando então? Como discernir os tempos? Como saber onde investir, edificar e criar raízes?

Como certa vez citou o Gondim em uma mensagem anos atrás, “um caixa de banco reconhece uma nota falsa no meio das demais não pelo fato de ter estudado todas as técnicas de todos os falsários do mundo, mas pelo simples fato de conhecer tão bem uma nota verdadeira que qualquer outra coisa que passe por suas mãos seja imediatamente identificada."

E desta forma temos caminhado por estes dias tenebrosos, esbarrando com verdadeiras obras de arte de perfeição e fidelidade ao que é original, mas não tendo o selo de autenticidade. E isso dói, pois vez ou outra nos apegamos até ao que não é verdadeiro por conta de nossas carências. Sabemos que aquilo não é bom, "mas aqui no peito tá doendo tanto, estou tão sozinho, preciso tanto de uma dose a mais de algo que me entorpeça para esquecer as dores do mundo que aceito esta cópia quase perfeita"...

Nossa, não esperava que pendesse para este lado relacional, pois apenas acreditava estar escrevendo sobre locais físicos ou circunstâncias, mas somos seres holísticos (vão me chamar de Nova Era, mas falo "aristotelicamente"...) e não existe nada “solto” e “sem razão”, pois tudo o que nos cerca faz parte de nossas vidas, influenciando direta ou indiretamente nosso ser.

Espero não esta viajando demais. O real intento destas linhas é mostrar que costumamos achar que somos obrigados a ter o controle de tudo o que acontece conosco e com quem está ao nosso redor, mas não temos como evitar que estes tirem suas próprias conclusões e tomem suas próprias decisões sobre como, o quê e quando fazer ou deixar de fazer algo.

Quando, porém, vem a calamidade ao nosso redor, olhamos para o lado (e não para trás) e vemos que alguns ficaram pelo caminho, por terem-se apegado ao que para trás ficou contra sua vontade. Mas a vida não nos dá a opção de retroagir! Temos que avançar sempre, cuidando daqueles que conosco decidem andar pelo Caminho da Vida, mas – ainda assim – sem o poder de obrigar ninguém a se manter em níveis mínimos de lucidez, necessários para continuar...

Nem Jesus fez isso! Em seu peito doeu ver o “jovem rico” que d’Ele se aproximou querendo saber como herdar a vida eterna, mas não estava pronto para largar tudo para trás e o seguir (Marcos 10:17-22).

Da mesma forma, vemos nos Evangelhos que, “Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse: "Eu te seguirei por onde quer que fores". Jesus respondeu: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". A outro disse: "Siga-me". Mas o homem respondeu: "Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai". Jesus lhe disse: "Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus". Ainda outro disse: "Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família". Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus". – a Lucas 9:57-62

É isso o que quero dizer. Sei que dói, não é o que gostaríamos de ver acontecendo ao nosso redor, mas não temos – assim como Deus não tem, por Ele nos dar a opção de não segui-lo – como estar no controle das decisões pessoais de cada um. Atrás de nós, se nos fosse permitido olhar nesta direção, veríamos diversas estátuas de sal, daqueles que iniciaram ao nosso redor, mas optaram em amar mais o presente mundo do que o Reino de Deus e sua Justiça.

Não falo isso com alegria, mas com temor e tremor perante Deus e os homens. Sei que é difícil para alguns aceitarem nossas decisões, sei que não agradamos muitos por não ficarmos por mais tempo na inércia que eles se encontram, apenas deixando as coisas tomarem seus rumos, pois estamos escrevendo a História, não somos apenas coadjuvantes, figurantes nesta peça gigantesca que é a história da humanidade.

Post Scriptum: Recentemente, tive que tomar algumas decisões relativamente radicais, mas o fiz somente para não me tornar um cínico – não no sentido da corrente filosófica grega que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos – mas no sentido pejorativo dos dias de hoje que significa se tornar uma pessoa sem pudor, indiferente, à minha consciência e ao sofrimento alheio e que em nada se assemelha a origem filosófica da palavra.

Meus valores estavam em xeque, não tinha eu como avançar em uma direção contrária ao que considero como caminho, não havia como fazer concessões, por mais que o “prêmio” final fosse algo que desejasse muito. Neste caso, “os meios não justificavam os fins”. Perderia muito tempo com coisas infrutíferas, e já não estou mais na idade de jogar meu tempo fora em troca de algo que me faria estar em comunhão com uma filosofia oposta a tudo o que creio.


E assim termino, sem fim, pois a história ainda está sendo escrita e acho que falei demais...