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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Os ciclos, as perdas e as restituições...


"Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se no chão em adoração e disse: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor". - Jó 1:20-21

Durante minha vida toda conquistei, ganhei e perdi muita coisa. Bens, dinheiro, pessoas amadas, coisas e situações mensuráveis ou não, entraram, foram usufruídas, conviveram, se gastaram, desgastaram, se cansaram e partiram, romperam, quebraram e foram cumprir seus papéis nos próximos passos “da cadeia”...

Algumas delas ficaram e continuam cumprindo seus papéis. Algumas sempre esperamos que sejam “eternas”, ao menos “eternas enquanto durem”, como diria o poeta, mas entendo que o desprendimento diante de tudo e todos é parte importante na manutenção de certa saúde emocional, pois parece que sempre que tentamos cravar a posse de algo, criamos uma espécie de vinculo que nos fragiliza.

A posse, em suas diversas formas e interpretações, acaba gerando insegurança naquele que acredita possuir algo, isso devido ao fato do indivíduo viver considerando a possibilidade de perder este direito adquirido. Na verdade, esta é uma relação perversa, pois quem considera possuir acaba se tornando possuído pelo objeto de sua posse.

Parece um jogo fútil de palavras, e talvez até mesmo o seja, mas entendo que devemos entender quem é senhor de quem nesta relação para não sofrermos desnecessariamente.

Quantos são os que perdem um emprego, um bem, um ente querido ou um relacionamento e dá cabo de sua vida por não aguentar a pressão, o vazio? E o que gerou este vazio senão o ato de dar o valor errado a algo ou alguém? Por que entregamos o que temos de melhor até para tranqueiras, inanimadas ou não? Qual a razão de considerarmos que “quando conseguirmos tal e tal coisa ou pessoa ou objetivo” nós seremos plenos?

Quantos se arrebentam nesta busca, alcançam seu(s) objetivo(s) e depois descobrem que tudo aquilo foi vaidade e correr atrás do vento, como diria Salomão no livro de Eclesiastes? Qual a razão de não buscarmos estar plenos de paz e satisfação dentro daquilo que dispomos? Lógico que traçamos objetivos, trabalhamos para alcançá-los, mas isso deve ser feito de forma a não cravarmos que “aquilo” é nosso objetivo de vida.

Compreendi que devo “ser dono de nada”, mesmo dispondo de várias coisas; tendo a possibilidade de conviver com pessoas que também se dispõem a conviver com você sem considerar que estas relações são sinônimo de posse, “deixando a porta aberta” para o que der e vier, literalmente.

Entendi que o contexto de “restituição”, cantado por vários (“restitui, eu quero de volta o que é... “meu”?) e por eu mesmo é uma roubada. Restituir o quê? Somos “donos” de quê? Até na vida de Jó, que citei como versículo chave, vimos que a restituição não implicou em devolução exata do que se perdeu nem na ressurreição dos filhos que morreram:

“O Senhor abençoou o final da vida de Jó mais do que o início. Ele teve catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de boi e mil jumentos. Também teve ainda sete filhos e três filhas. À primeira filha deu o nome de Jemima, à segunda o de Quézia e à terceira o de Quéren-Hapuque. Em parte alguma daquela terra havia mulheres tão bonitas como as filhas de Jó, e seu pai lhes deu herança junto com os seus irmãos. Depois disso Jó viveu cento e quarenta anos; viu seus filhos e os descendentes deles até a quarta geração. E então morreu, em idade muito avançada”
. - Jó 42:12-17

Os longos últimos dias da vida de Jó foram abençoados por Deus, mas mesmo estas novas bênçãos – ao menos no meu entendimento - não foram suficientes para preencher os possíveis vazios gerados pela lembrança do que para trás ficou. Jó apenas deu andamento à sua vida, e as coisas continuaram a fluir naturalmente. A dor de ontem passou e hoje a realidade é outra. A ferida foi curada, mas as cicatrizes ficaram. Mas assim é a vida.

Dentro deste contexto de posse acredito que, na verdade, a única coisa que realmente nos pertencem são estas cicatrizes...

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...