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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Obedecer (esperar) ou sacrificar (fazer do meu jeito)?

(Disse Samuel a Saul): "Vá na minha frente até Gilgal. Depois eu irei também, para oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão mas você deve esperar sete dias, até que eu chegue e lhe diga o que fazer". (...) “Os filisteus reuniram-se para lutar contra Israel, com três mil carros de guerra, seis mil condutores de carros e tantos soldados quanto a areia da praia. Eles foram a Micmás, a leste de Bete-Áven e lá acamparam. Quando os soldados de Israel viram que a situação era difícil e que o seu exército estava sendo muito pressionado, esconderam-se em cavernas e buracos, entre as rochas e em poços e cisternas. Alguns hebreus até atravessaram o Jordão para chegar à terra de Gade e de Gileade. Saul ficou em Gilgal, e os soldados que estavam com ele tremiam de medo. Ele esperou sete dias, o prazo estabelecido por Samuel; mas este não chegou a Gilgal, e os soldados de Saul começaram a se dispersar. E ele ordenou: "Tragam-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão”. Saul então ofereceu o holocausto; quando terminou de oferecê-lo, Samuel chegou, e Saul foi saudá-lo. Perguntou-lhe Samuel: "O que você fez?" Saul respondeu: "Quando vi que os soldados estavam se dispersando e que não tinhas chegado no prazo estabelecido, e que os filisteus estavam reunidos em Micmás, pensei: Agora, os filisteus me atacarão em Gilgal, e eu não busquei o Senhor. Por isso senti-me obrigado a oferecer o holocausto". Disse Samuel: "Você agiu como tolo, desobedecendo ao mandamento que o Senhor, o seu Deus, lhe deu; se você tivesse obedecido, ele teria estabelecido para sempre o seu reinado sobre Israel. Mas agora o seu reinado não permanecerá; o Senhor procurou um homem segundo o seu coração e o designou líder de seu povo, pois você não obedeceu ao mandamento do Senhor". – 1 Samuel 10.8 / 13.5-14

Uma característica comum em muitos de nós (pelo menos em mim) é a ansiedade de “pegar e fazer” tudo rapidamente, sem aguentar esperar o "momento certo" para isso.

Sempre digo “odeio depender dos outros” quando alguma situação de minha vida passa pelas mãos de terceiros que não tem o mesmo empenho, o mesmo compromisso que eu. Se eu assumo algo com alguém só fico em paz quando concluo o combinado. Por exemplo: Se alguém me pede um dinheiro emprestado e eu posso ajudar já faço a transferência na hora. Por outro lado, se compro um móvel e marco a data para a entrega e a montagem, exijo o cumprimento dos prazos. Quer acabar comigo é marcar a data e não cumprir. Quero matar um quando isso acontece!

Sei que sou exagerado neste ponto, devo ser o único assim (até parece...) mas trabalho com transporte marítimo e – caso atrase 5 minutos no envio da documentação necessária para embarque – coloco em risco o embarque de dezenas de containeres de meus melhores clientes, gerando prejuízos astronômicos em transferência de quadra e armazenagem dos equipamentos até o próximo navio.

Falo isso no sentido "horizontal", nas relações comerciais, profissionais... Em relação ao “mundo vertical” já não é possível mensurar os prazos da mesma forma, pois o tempo cronológico não é capaz de precisar quando as coisas acontecerão. Nosso Deus não está limitado ao “kronos”, estando ele no tempo pleno, o “kairós”, o tempo eterno, onde não há ontem, hoje nem amanhã, sendo um constante sempre, digamos assim.

Por esta razão, se eu marco com você tal hora do dia tal em tal lugar, estarei no local na hora marcada, talvez até antes. Já as promessas do Senhor são eternas por se localizarem no tempo eterno.

No caso bíblico supra citado, há uma "combinação entre o horizontal e o vertical". Deus marcou um encontro com Saul através do profeta Samuel sete dias após o encontro entre eles. Não sei como Saul contou o tempo, mas os sete dias se passaram e Saul estava frente ao exército filisteu, recém empossado como rei de Israel e perdendo o controle de seus subordinados. Como ele tinha passado algumas experiências extraordinárias com Deus no intervalo entre o encontro com Samuel até aquele momento, achou que já era o ungidão de Deus, a ponto de desobedecer a palavra profética de Samuel.

Decidido a não perder sua recém conquistada posição de liderança, resolveu oferecer os sacrifícios e holocaustos ao Senhor sem a presença do profeta. Assumiu o papel de sacerdote sem o ser, carregando também os riscos decorrentes de tal atitude.

Logo após oferecer os sacrifícios chegou Samuel. Imagino a cena: Saul todo serelepe, feliz da vida com a peixeira na mão, todo sujo de sangue dos sacrifícios, virando para Samuel todo orgulhoso, dizendo algo como “Pô Samuel, me deixou na mão né cara? Marcamos sete dias atrás e você me deu o maior “pelé”! Ainda bem que não sou um boca aberta e já corri em fazer os sacrifícios!”, ao que Samuel deve ter respondido: “Saul, seu idiota! Esqueceu que seu relógio é paraguaio e está adiantado alguns minutos? Neste exato momento se completaram os sete dias que combinei com você. Por outro lado, não falei exatamente sete dias, no sentido “sete dias atrás, às “xis” horas, comece a contar sete dias e – exatamente na mesma hora que nos vimos da última vez – chegarei eu para oferecer os sacrifícios. Esta hora que aqui me apresento ainda está no sétimo dia que falei que viria!”

O resto está escrito. Saul dançou, pois se tornou orgulhoso, soberbo. De um recém ungido de Deus para reinar sobre Israel, tendo sido cheio do Espírito Santo desde então, perdeu tudo por não ter obedecido à instrução do homem de Deus.

Mais a frente, vemos uma discussão entre Samuel e Saul que define qual postura devemos ter em relação as instruções do Senhor:

“Samuel, porém, respondeu: "Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei". – 1 Samuel 15.22-23 (Vale a pena do capítulo 15 na íntegra. Fica a sugestão...)

Termino com a famosa Oração da Serenidade, escrita pelo teólogo protestante Reinhold Niebuhr que viveu de 1892 até 1971 e trabalhava no Union Theological Seminary, nos Estados Unidos da América.

"Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa, e sabedoria para que eu saiba a diferença: vivendo um dia a cada vez, aproveitando um momento de cada vez; aceitando as dificuldades como um caminho para a paz; indagando, como fez Jesus, a este mundo pecador, não como eu teria feito; aceitando que o Senhor tornaria tudo correto se eu me submetesse à sua vontade para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e extremamente feliz com o Senhor para sempre no futuro. Amém."

2 comentários:

  1. Pastor,

    Obrigada pelo texto. Deus te abençoe.

    Fazia dias que eu colocava uma causa difícil no Altar do Senhor e ele silenciava. Fui ficando serena, mas como demorava o silêncio, comecei a questioná-Lo. Coisas de ser humano rss

    Ora, como era que desde a minha conversão eu tinha intimidade para receber resposta prontamente e com aquela bronca que tô passando Ele simplesmente silencia?

    Por acaso Ele não sabe que aquela questão é delicada para mim? Que é o que há de mais importante na minha vida?

    Então por que Ele não me dá logo as coordenadas para que eu entre em ação? Ora, eu preciso fazer alguma coisa!

    Cheguei a esse ponto em minhas orações até quando caí em mim de novo dizendo alowwwwwww tem alguém aí? risos

    Ontem mesmo comentei sobre isso. Eu que sou de agir, como vc colocou, estou esperando no Senhor. Literalmente. Pois aprendi que esse "espera e confia" do salmista significa simplesmente transferência de domínio.

    Até pessoas próximas me cobram uma atitude e eu digo apenas: já coloquei aos pés da Cruz. Estou aguardando. (Acho que me tomam por louca até mesmo os que conhecem a Deus)

    Enfim, xô encerrar senão vira post rsss

    Mas encerro com o salmo:

    "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra".

    bjusss

    Rê.

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  2. Hinri João,

    Eu sou meio (inteiro e mais um pouco, quero dizer) metódico. Assim, também sou encucado com esse negócio de respeitar horários e respeitar compromissos. No plano horizontal, como você disse.

    Mas, em relação a Deus, tenho sido ensinado por Ele, há anos, a esperar a hora dEle. E posso garantir que Ele sempre entra com a Sua providência no momento certo, que, muitas vezes, a gente toma por atrasado/demorado.

    Cansei de ser cobrado pelas pessoas, no sentido de fazer, acontecer, correr atrás de determinada coisa. Sempre que ouvi às pessoas, me ferrei. Sempre que confiei em Deus e esperei nEle, deu tudo certo. E, diferente da Episcopisa, não acho que os outros me chamem de louco. Eu tenho certeza, porque já me disseram isto frente a frente, sem rodeios. E são evangélicos...

    Deixa eu imitar a Episcopisa e deixar um versículo:

    "Os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" (Isaías 40:31).

    Abração e Paz!

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...