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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A verdade está no fundo do poço


“A verdade está no fundo do poço”, li certa vez, não me lembro mais se num livro ou num artigo de jornal. Em todo caso, em letra de forma, e como duvidar de afirmação impressa? Eu, pelo menos, não costumo discutir, muito menos negar, literatura e jornalismo.

(...)

O meritíssimo Dr. Siqueira, juiz aposentado, respeitável e probo cidadão, de lustrosa e erudita careca, explicou-me tratar-se de um lugar comum, ou seja, coisa tão clara e sabida a ponto de transformar-se em um provérbio, num dito de todo mundo.

(...)

No entanto, por mais que ele me explique tratar-se de apenas um provérbio popular, muitas vezes encontro-me a pensar neste poço, certamente profundo e escuro, onde foi a verdade esconder sua nudez, deixando-nos na maior das confusões, a discutir o propósito de um tudo ou de um nada, causando-nos a ruína, o desespero e a guerra

Poço não é poço, fundo de um poço não é o fundo de um poço, na voz do provérbio isso significa que a verdade é difícil de revelar-se, sua nudez não se exibe na praça pública ao alcance de qualquer mortal. Mas é o nosso dever, de todos nós, procurar a verdade de cada fato, mergulhar na escuridão do poço até encontrar sua luz divina.


Trechos das páginas 71/72 de “Os Velhos Marinheiros”, livro de Jorge Amado, 27ª edição, lançado pela Livraria Martins Editora S/A, mil novecentos e bolinha...


Anteontem acabei de ler o livro “50 Anos a Mil” do Lobão, uma deliciosa e reveladora viagem pela vida e carreira deste polêmico e querido músico. Querido por mim que vivi intensamente o início da cena roqueira brasileira nos anos 80, polêmico para alguns por sua trajetória de vida conturbada, cercada de prisões, problemas familiares e outras coisinhas mais.

Ontem engatei na leitura do Jorge Amado, coisa que fiz muito na minha juventude e que havia interrompido após minha conversão pelo fato de considerar seus livros muito picantes, cheio de sensualidade, envolvimento constante de seus deliciosos personagens pelo candomblé, prostituição e – principalmente – com a vida de todos em relação ao mar.

Eu, muito crente, taquei fogo em tudo, claro! Quase vinte anos depois, senti saudades daquela frase constantemente repetida nas melodias dos marinheiros das tramas de Jorge Amado, contidas no livro Mar Morto: “É doce morrer no mar”. Virou até canção de Dorival Caymmi, como diz o blog MPB Cifrantiga:

“Segundo Dorival Caymmi, "É Doce Morrer no Mar" nasceu durante uma reunião de amigos, em casa do coronel João Amado de Faria, pai de Jorge Amado. No calor da festa, o compositor criou a canção sobre um tema de "Mar Morto", romance de Jorge sobre os mestres de saveiros: "É doce morrer no mar / nas ondas verdes do mar".

Imediatamente, o romancista compôs mais alguns versos, completando a canção ("Nas ondas verdes do mar, meu bem / ele foi se afogar / fez sua cama de noivo / no colo de Iemanjá...").

"Chegou a haver um concursinho entre os presentes (Érico Veríssimo, Clóvis Amorim e outros), mas acabaram prevalecendo os versos de Jorge", relembra o compositor. "É Doce Morrer no Mar" foi gravado por Caymmi no mesmo disco que lançou "A Jangada Voltou Só", outra de suas obras-primas".


Exatamente por este envolvimento com ao candomblé que eu me apartei deste tipo de literatura. Hoje, ao começar a reler estes livros “pagãos” de Jorge Amado, vejo que tudo vai muito da maneira como você se relaciona com o que está por aí.

Como diz Paulo em sua primeira carta aos cristãos da Tessalônica, capítulo 5, verso 21:

“mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom

Oras, será que eu não posso ler ou ver algo que fuja do cercadinho religioso sem me contaminar (lógico que não me refiro a pornografia ou coisas do gênero)? Se assim for, teria que sair do mundo, deste sistema, não do planeta (ou até mesmo do planeta, dependendo da minha fragilidade). Jesus mesmo falou sobre isso em sua oração sacerdotal:

“Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou”. – João 17.15-16

Com isso, retorno aos trechos que citei do livro de Jorge Amado: “A verdade está no fundo do poço”. Não me refiro à VERDADE, Jesus revelado. Esta é firmada na Rocha e não é negociável. Digo aos fatos cotidianos, àqueles acontecimentos que nos cercam em todas as áreas de nossas vidas e nem nos damos conta disso.

Parte-se do pressuposto que uma autobiografia do Lobão é verdadeira, o que não significa compactuar com tudo o que ele fez (e olha que ao ler o excelente livro você fica do lado dele em praticamente tudo que aconteceu!). Um livro de Jorge Amado é verdadeiro ao relatar o dia a dia do povo da Bahia, sua religiosidade e costumes, o que também não significa que vou fazer um tererê, uma tatuagem de rena, beijar a boca de um baiano (dizem que se você vai pra Porto Seguro e não faz estas três coisas você nunca foi...) virar macumbeiro e morrer no mar.

Afinal de contas, “Poço não é poço, fundo de um poço não é o fundo de um poço, na voz do provérbio isso significa que a verdade é difícil de revelar-se, sua nudez não se exibe na praça pública ao alcance de qualquer mortal. Mas é o nosso dever, de todos nós, procurar a verdade de cada fato, mergulhar na escuridão do poço até encontrar sua luz divina".


O que você acha?

9 comentários:

  1. JC,

    Gostei muito de suas conclusões a respeito de nosso relacionamento com as coisas do mundo. Foram bem fundamentadas e, a meu ver, acertadas.

    Quanto à VERDADE, a revelação de Jesus, não estar no fundo do poço, talvez Jó discorde de você. Diante de uma tragédia ímpar, insuportável pra qualquer um de nós, o cara deu graças a Deus!!! Mas, o mais interessante é que, muito depois disto, ele disse que quando deu graças, só conhecia ao Senhor de 'ouvir falar' e, depois de ter chegado ao fundo do poço, O conheceu pessoalmente, em uma revelação Pessoal!

    E, se pararmos pra analisar cuidadosamente, assim é com quase todas as pessoas, se não todas. Iniciamos nosso relacionamento com o Senhor, por termos ouvido falar dEle. Mais adiante, normalmente, o Senhor nos leva por caminhos que, pra nós, levam ao fundo do poço. E é quando chegamos lá, quando reconhecemos nossa total incapacidade de fazer algo por nossas vidas, por nós mesmos, que Ele Se revela a nós em Amor e Poder, de uma forma incontestável!

    Isto também costuma acontecer com pessoas que têm uma vida devassa. Vivem sua devassidão, como se isto fosse o caminho da felicidade, até chegarem a um ponto "zero", onde nada mais faz sentido. E se sentem perdidas sem um norte na vida e sem razão pra viver. É nesse momento que o Senhor Se revela a essas pessoas, Pessoalmente. Veja que, enquanto tais pessoas ainda consideram os seus caminhos como o verdadeiro caminho da felicidade, não adianta ninguém, nem mesmo, falar com elas a respeito de Cristo. Elas só estarão receptivas quando chegarem ao 'fim da linha'. Você já percebeu isto?

    Faça um teste! Quando você for a Sampa, novamente, dá uma chegada lá na Praça da República, à noite/madrugada, e tente falar sobre Jesus com os freqüentadores de lá. Você vai perceber que aqueles que ainda estão iludidos de que são felizes, não vão dar bola pra você. Mas experimente falar com aquele que está saindo de fininho da praça, cabeça baixa, talvez uma lágrima escorrendo pelo rosto. O resultado será totalmente diferente, porque esse estará chegando ao fundo de seu poço.

    É minha percepção, já que você perguntou...

    Abração e continue na Paz!

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  2. Concordo totalmente com você cara, não tinha escrito por esa ótica mas é verdade sim: EU tive que chegar ao fundo do poço para encontrar a Verdade!

    Quanto a ir à Pça da República a noite nem é necessário, apesar da sauade de minha Sampa amada e querida: Basta eu dar um rolezinho no Recreio a noite...

    Valeu, como sempre valeu muito! Seu comentário só completa o texto com maestria!

    Um abração!

    Jotacê

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  3. Tem certas postagens (e comentários) que eu simplesmente leio. Mais nada. Leio, releio... E tá tudo certo. Me dou por feliz.

    E isso nem é elogio e muito menos bajulação, heim?!

    Simplesmente não dá pra explicar, só isso.

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  4. Dá pra traduzir esse An-hammm...?!

    Que idioma é esse?

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  5. Estou com tosse, deve ser o ar condicionado... :P

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  6. Acho que o bichinho do 'An-hammm' pegou alguém!!!

    Tá faltando o ILE Wendel aqui, pra traduzir essas coisas. Dá pra alguém dizer o que significa ':P'?

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  7. :P <-- dando língua

    Ele me deu, eu devolvi, sou desaforada rss

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...