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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Relação dinâmica ou relação departamentalizada?



As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.” – João 10:27

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” – Gálatas 2:20

Use seu lado “matemático” e “some” estes dois versículos. Se não conseguir chegar a um resultado harmônico, sua relação com Deus é burocrática e departamentalizada. Se a soma fez sentido, acredito que sua relação com Deus seja viva e dinâmica.

Quanto você ouve falar de Deus, de Jesus, dessa coisa de “servir a lei dos crentes” ou “virar evangélico”, pecado, dízimo, pastor e o que mais aparecer no rol da “religião evangélica”, tudo é estranho e você tem certa aversão. Termos religiosos, gente chata, vestidão, cabelão, Bíblia, terno surrado e gravata, pregando na praça, falando coisas estranhas...

Você pensa: “Isso é religião e todas as religiões são iguais. Afinal de contas, todos os caminhos levam a Deus”, para ser – ao menos – politicamente correto. Um dia você topa visitar uma igreja, pois seu amigo/parente chato já fez você esgotar a lista de desculpas para não aceitar o insistente convite. Deixando o grosso do dinheiro em casa (para evitar surpresas), assiste a reunião e – digamos que na primeira delas – acaba levantando a mão no apelo e “virando evangélico” pra quem te convidou parar de te encher o saco ou por realmente ter sentido algo diferente.

Frequentando as reuniões, cai-se em algum extremo. Na maioria das vezes, o do radicalismo, passando a crer que tudo o que vivia antes era do diabo. Joga fora uma porrada de coisas, não frequenta mais os mesmos lugares de antes, não convive com os velhos e bons amigos, para de fumar, para de beber, para de torcer pra algum time de futebol, não ouve mais música “do mundo”, enfim: Se torna um porre (ou melhor, uma ressaca...).

Tudo o que vai fazer agora passa a depender de revelação profética, conselho do pastor, oração com as irmãs e irmãos, jejum. Desta forma, evita-se cair nas tentações do passado não tão distante e que insiste em rondar a porta. Torna-se então cada vez mais e mais engajado nas atividades da igreja, frequentando todos os cultos possíveis, todas as atividades “extraclasse”, incluindo a escola dominical, vigílias, correntes, visitas e o que mais caiba nas 24 horas diárias.

Todos passam a te respeitar dentro das quatro paredes, enquanto sua vida “pregressa” passa a ser apenas uma lembrança amarga, falada apenas para servir de exemplo do que não se pode ser ou fazer. Nada antes foi bom, tudo foi feito pra desonra e inglória do Senhor, mas agora você se torna mais cristão que Cristo (que, por sinal, não era cristão, mas aí são outros quinhentos...).

Começa a ouvir dizer ou presenciar que um ou outro “caiu em pecado” ou que “desviou dos caminhos do Senhor”, agarrando-se cada vez mais à instituição-igreja... Com unhas e dentes. Vai que é contagioso? Assim, você - uma espécie de anti-herói - acaba se tornando um insuportável rato de igreja, daqueles que ninguém suportam por muito tempo, pois tudo é “ta amarrado”, tudo tem que ser repreendido, e por aí vai.

Destes iguais a você, muitos ficam satisfeitos com os tapinhas nas costas, com os “aleluia salve salve” dos outros irmãos, com o amém do pastor e da liderança. Não há o que questionar. A “fórmula” funciona, não se mexe em time que está ganhando, não vale a pena não seguir as regras e sua relação com Deus se torna departamentalizada. Sem o sacerdote, sem o “Moisés”, a presença de Deus é insuportável.

Alguns, entretanto, sentem uma sede que cada dia só piora, fazendo com que estes busquem cada vez mais se relacionar com o Senhor, a despeito de toda a formula religiosa.

Leem a Palavra, ouvem uma certa Voz dentro de seu peito, diferente de todas a demais e percebem que as coisas não são exatamente como dita a doutrina. Humildemente se cala para não passar a imagem de insubordinados, mas este “se calar” somente adia o processo iniciado nem se sabe ao certo quando. Se conversa em “off” com outro irmão, muitas vezes são mal interpretados. Se fala sobre o que se passa no seu coração com a liderança então pior. Temem ser expulsos de um sistema religioso que o abrigou quando estava no fundo do poço, mas que na verdade serviu apenas como pronto socorro.

Alguns optam então em viver “clandestinamente” dentro da igreja, mesmo sentindo que esta opção apenas os sufoca a cada dia. Outros, ouvindo e vivendo, mergulhando e transbordando de algo novo, simplesmente percebem que não dá mais. Os 9 meses se cumpriram, o casulo se rompeu, o ovo não te comporta mais e é necessário romper a casca, sair da fase embrionária e respirar o ar de fora.

Com todo cuidado, ao mesmo tempo que com toda alegria, descobrem que o mundo não se limita ao templo, que a vida com o Senhor existe de forma dinâmica quando ele e seu amigo sentam despreocupadamente, tomando uma taça de vinho e falando da beleza ou dos problemas da vida, da criação, de Deus e de Seu Filho Jesus...

Percebe que algo diferente aconteceu dentro deles. Pensamentos nunca antes formulados de repente surgem em sua mente, um amor nunca antes vivido queima em seu peito, decisões importantes passam a ser tomadas não mais consultando os “oráculos evangélicos”, mas estranhamente por si próprio, mas não mais como antes de conhecer o Senhor. Agora “o Jesus Cristo” não é mais alguém impessoal. Ele habita em você. Seus pensamentos, por mais estranhos que possam parecer, não são mais seus. Suas decisões contém o amém do Pai.

Assustadoramente, não é mais você que vive. Mesmo aparentemente sendo o oposto do que a religião departamentalizada prega ser aquele que “serve à Deus”, você sabe que Ele habita em você. Não há mais necessidade de babá, não precisa mais comer só papinha e ser embalado em um berço. Você sabe pensar com a mente de Cristo, você se alimenta de comida sólida, sabe se virar "sozinho”, pois não está mais só: É Ele e você, de forma que você não nota mais onde está o elo de ligação. Uma relação dinâmica com o Criador; você, uma pequena criatura...

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Quem nasceu pra ser lagarta, nunca será borboleta...



Como diz o ditado:

"Quem nasceu pra ser lagarta, nunca será borboleta"

Como pode alguns colocarem asas em uma lagarta tóxica e mandá-la voar? Esta é uma pergunta que eu não consigo responder. A própria lagarta resolveu ir contra o ciclo natural, optando em continuar se arrastando, mesmo sendo feia (apesar de suas cores), tóxica e repulsiva.

Não avaliaram que ela nem cogitou passar por uma metamorfose! Apesar de se arrastar continuamente, subir um bocadinho durante o dia e escorregar tudo o que subiu durante a noite, ela insiste neste processo e se recusa a mudar, pois ela acredita que não pode perder seu precioso tempo num processo natural como o da metamorfose.

O que lhe resta? Continuar colorida, mas sua cor apenas serve de alerta para os que não são daltônicos, podendo então se esquivar de sua incômoda peçonha e repugnância.

Seus movimentos são lentos, sua insistência em permanecer no “status quo” é irritante, ela tenta fazer com que todas as outras lagartas ao seu redor não percam seu tempo naquele aparente “descanso”, sendo que isso nada tem de descanso: Trata-se de um movimento inexorável.

Ela teme parar no tempo. Teme ser engolida por um “terrível comedor de casulos”, e muito menos, aguentar o possível sofrimento que viria atravessando um processo que faria que sua natureza repugnante viesse a se tornar em algo leve e belo como a borboleta. Olha no espelho, vê suas cores e se dá por satisfeita.

Luta desesperadamente em fugir da natureza e – por isso mesmo – se torna uma criatura pior, pois o tempo de lagarta tem “prazo de validade”. De alguma forma, ela consegue fugir do caminho natural, mas o preço pago é sofrimento em cima de sofrimento: Dela e dos que ela procura atormentar.

As que não cedem ao seus apelos vai em direção ao processo de transformação, mas ela olha para o lado e vê seus “pares pararem”, sem se conformar com o fato. Tenta sacudi-las, mas o processo de todas as demais continua inexoravelmente. Não há volta, a mudança é necessária e natural.

Ela se irrita, agride, ataca com seu veneno mas as outras já se encontram no casulo. Enquanto estas “morrem feias e renascem maravilhosas”, a teimosa lagarta apenas blasfema, tentando convencer as novas lagartinhas de que aquele processo é vergonhoso,” anti-natural” e que, se querem sua proteção de "lagarta-mor", devem abandonar seus desejos de metamorfose.

Todavia, a mentira é “como uma lagarta”: Apesar de suas dezenas de pernas, todas são curtas. A lagarta velha, então, imersa em sua teimosia e repugnância, apenas engorda, se torna mais e mais visível, lenta e acaba explodindo no bico de algum predador que ela tanto temia ou apenas cai do galho e se espatifa no chão.

Antes fosse borboleta. Por mais que o processo de metamorfose gere um prazo de validade menor, ainda assim ela teria visto coisas que nunca viu na vida; teria gozado de prazeres que somente aqueles que podem voar podem desfrutar.

Ainda que as últimas possam acabar “eternizadas” em uma moldura de algum colecionador de lepidópteros, ainda assim – até seu momento final – seria bela, ao contrário da gorda e velha lagarta que explodiria em algum canto de chão qualquer, por não poder mais se sustentar sozinha...

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Os ciclos, as perdas e as restituições...


"Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se no chão em adoração e disse: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor". - Jó 1:20-21

Durante minha vida toda conquistei, ganhei e perdi muita coisa. Bens, dinheiro, pessoas amadas, coisas e situações mensuráveis ou não, entraram, foram usufruídas, conviveram, se gastaram, desgastaram, se cansaram e partiram, romperam, quebraram e foram cumprir seus papéis nos próximos passos “da cadeia”...

Algumas delas ficaram e continuam cumprindo seus papéis. Algumas sempre esperamos que sejam “eternas”, ao menos “eternas enquanto durem”, como diria o poeta, mas entendo que o desprendimento diante de tudo e todos é parte importante na manutenção de certa saúde emocional, pois parece que sempre que tentamos cravar a posse de algo, criamos uma espécie de vinculo que nos fragiliza.

A posse, em suas diversas formas e interpretações, acaba gerando insegurança naquele que acredita possuir algo, isso devido ao fato do indivíduo viver considerando a possibilidade de perder este direito adquirido. Na verdade, esta é uma relação perversa, pois quem considera possuir acaba se tornando possuído pelo objeto de sua posse.

Parece um jogo fútil de palavras, e talvez até mesmo o seja, mas entendo que devemos entender quem é senhor de quem nesta relação para não sofrermos desnecessariamente.

Quantos são os que perdem um emprego, um bem, um ente querido ou um relacionamento e dá cabo de sua vida por não aguentar a pressão, o vazio? E o que gerou este vazio senão o ato de dar o valor errado a algo ou alguém? Por que entregamos o que temos de melhor até para tranqueiras, inanimadas ou não? Qual a razão de considerarmos que “quando conseguirmos tal e tal coisa ou pessoa ou objetivo” nós seremos plenos?

Quantos se arrebentam nesta busca, alcançam seu(s) objetivo(s) e depois descobrem que tudo aquilo foi vaidade e correr atrás do vento, como diria Salomão no livro de Eclesiastes? Qual a razão de não buscarmos estar plenos de paz e satisfação dentro daquilo que dispomos? Lógico que traçamos objetivos, trabalhamos para alcançá-los, mas isso deve ser feito de forma a não cravarmos que “aquilo” é nosso objetivo de vida.

Compreendi que devo “ser dono de nada”, mesmo dispondo de várias coisas; tendo a possibilidade de conviver com pessoas que também se dispõem a conviver com você sem considerar que estas relações são sinônimo de posse, “deixando a porta aberta” para o que der e vier, literalmente.

Entendi que o contexto de “restituição”, cantado por vários (“restitui, eu quero de volta o que é... “meu”?) e por eu mesmo é uma roubada. Restituir o quê? Somos “donos” de quê? Até na vida de Jó, que citei como versículo chave, vimos que a restituição não implicou em devolução exata do que se perdeu nem na ressurreição dos filhos que morreram:

“O Senhor abençoou o final da vida de Jó mais do que o início. Ele teve catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de boi e mil jumentos. Também teve ainda sete filhos e três filhas. À primeira filha deu o nome de Jemima, à segunda o de Quézia e à terceira o de Quéren-Hapuque. Em parte alguma daquela terra havia mulheres tão bonitas como as filhas de Jó, e seu pai lhes deu herança junto com os seus irmãos. Depois disso Jó viveu cento e quarenta anos; viu seus filhos e os descendentes deles até a quarta geração. E então morreu, em idade muito avançada”
. - Jó 42:12-17

Os longos últimos dias da vida de Jó foram abençoados por Deus, mas mesmo estas novas bênçãos – ao menos no meu entendimento - não foram suficientes para preencher os possíveis vazios gerados pela lembrança do que para trás ficou. Jó apenas deu andamento à sua vida, e as coisas continuaram a fluir naturalmente. A dor de ontem passou e hoje a realidade é outra. A ferida foi curada, mas as cicatrizes ficaram. Mas assim é a vida.

Dentro deste contexto de posse acredito que, na verdade, a única coisa que realmente nos pertencem são estas cicatrizes...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Areia movediça...




“Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”
Mateus 24:12-13

Muito tempo se passou desde a última vez que parei para escrever algo neste blog. Entre a multidão de desculpas, acabei me deixando levar pelo comodismo do Facebook, onde insights que poderiam ser transformados em textos se tornaram poucas linhas, apenas para me ajustar ao “formato comercial” e receber alguns “likes”, como se isso fosse algo que presta...

Coincidentemente (ou não), parei de dar vazão ao que vinha do Espírito ao meu espírito, num círculo vicioso difícil de romper. Fui me permitindo engessar, por dentro fui me impermeabilizando, me tornei um espelho que refletia a todos, mas não mostrava quem era eu nem o que do Alto recebia. Por me blindar, conseqüentemente fui me amornando, procurando ficar dentro de minha carapaça e não me dedicar ao dom que recebi do Senhor.

Quais as desculpas para isso? Diante de todos os inúmeros problemas que enfrentei no último ano, parei de viver pela fé e passei a procurar sobreviver pelos meus próprios esforços. Sem fé, fui me tornando pior, e - sendo pior – me tornei pequeno, mesquinho, egoísta, vingativo, repulsivo. Precisava sobreviver, mas passei a usar as armas erradas para isso.

Alguns que me conhecem melhor sentiram a mudança, mas optaram em falar o mínimo possível sobre este assunto para não serem “agredidas” de alguma forma pelo que eu estava me transformando. Por dentro da carapaça, eu sentia que estava mal, mas meu orgulho impedia que eu procurasse uma saída para esta espiral descendente.

Como que sugado por um redemoinho, queria apenas sobreviver, desesperadamente lutando contra meus demônios pessoais, que vieram à tona com toda força. Não me reconhecia mais, nada mais fazia sentido, queria apenas saber de mim, por mais que ainda surgia – esporadicamente – um traço de bondade aqui, outro ali...

Mas isso não era o suficiente. Como alguém – como eu – que já tinha sido usado tantas vezes pelo Senhor, se permitiu endurecer? Como um sapo na chaleira, estava sendo cozido lentamente pelas águas que antes me serviam de campo para pesquisas e descobertas deliciosas no Reino de Deus e sua Graça.

O ambiente que eu inicialmente havia discernido como hostil, mas que – pelo Espírito de Deus – descobri que era este maravilhoso campo a ser desbravado, voltou à estaca zero, pois optei em me deixar levar pelas circunstâncias ao meu redor. Como Pedro, estava andando por sobre as águas, mas temi... e afundei.

Por uma ou outra conversa com pessoas do meu cotidiano, lembrei que estava em débito comigo, com meus amados e com Cristo. Débito este fruto de minha indiferença ao que realmente importava nestas relações: O amor, o verdadeiro Amor, aquele que recebi de Graça e passei a reter por algum desvio de rota, daqueles imperceptíveis no começo, apenas uma fração de grau, mas que me deixaram hoje anos luz de distância do centro da vontade do Pai.

Para voltar, estou me esforçando para escrever estas linhas, como “mea culpa”. É um pequeno passo, mas oro ao Senhor que Ele tenha misericórdia de mim, segure firme em minha mão e me arranque desta areia movediça...