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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Reconstrução...


Engraçado...

Sei que muitos podem achar que eu basicamente gosto de escrever sempre sobre os mesmos assuntos. Isso me faz lembrar de um” causo” que o Ricardo Gondim contou certa vez em um culto. Existia um pastor muito antigo em uma congregação e que, por alguns meses, somente pregava sobre o assunto AMOR. Intrigados com isso, os líderes da igreja se reuniram com o pastor e perguntaram a ele a razão dele estar pregando sobre o amor a tantos meses. Acreditavam que ele estava sem assunto e que, talvez, seria melhor ele se aposentar. A resposta que ele deu foi que ele insistiria em pregar sobre o amor até que ele visse que todos os membros daquela igreja estivessem vivendo aquela verdade. Ai sim, ele poderia pregar sobre outros assuntos...

Isso posto, digo que por estes dias eu vinha me sentido alheio a tantas coisas! Parecia que a vida tinha se resumido a uma grande bobagem, tipo quando seu time não tem mais condições de disputar o título e também não corre o risco de ser rebaixado. Faltando poucas partidas para o fim do campeonato, ele apenas cumpre tabela, jogando por jogar, para não ser desclassificado por não entrar em campo mas também sem nenhuma motivação em dar seu melhor.

Comer ou não comer, estudar ou não estudar, trabalhar ou não trabalhar, congregar ou não congregar, ir para casa, ficar na rua ou me jogar no mar. Nada estava me dando prazer e eu sabia que o problema não estava nestas atividades e sim em mim mesmo. Onde será que eu tinha perdido o fio da meada? O que eu estava fazendo ou deixando de fazer que fizesse com que tudo estivesse tão sem sal e sem sabor?

O problema estava dentro de mim, algo lá dentro parecia que estava desconectado. Acho que estava tentando cuidar para que tudo estivesse perfeitinho e com esta postura, parecia que eu havia me desfragmentado. Pedaços de mim estavam jogados em todos os cantos. Pior ainda, parecia que eu tinha sido consumido por um fogo e minhas cinzas tinham sido espalhadas pelo vento, tornando impossível me reencontrar.

Quem teria a habilidade e a paciência de recolher cada caquinho, cada grãozinho, cada partícula do pó que eu havia me tornado? Onde estava eu? Havia enfim sido consumido e absorvido como combustível para que todo este sistema perverso continuasse em movimento? Este maldito sistema movido pelo consumo de vidas e almas humanas teria enfim me anulado, jogando meu nome no esquecimento?

Como me reintegrar novamente? Onde estava o fôlego de vida que me sustentava?

Sentia-me como parte dos ossos secos que se encontravam no vale:

“A mão do Senhor estava sobre mim, e por seu Espírito ele me levou a um vale cheio de ossos. Ele me levou de um lado para outro, e pude ver que era enorme o número de ossos no vale, e que os ossos estavam muito secos. Ele me perguntou: "Filho do homem, estes ossos poderão tornar a viver?" Eu respondi: "Ó Soberano Senhor, só tu o sabes..."
(Ez 37.1-4)

Jogados ali, meus restos faziam parte do nada, o triste fim de algo que não havia sido plenamente vivido. Vivia por viver, uma vida morna, agonizante, cansativa e enfadonha. Não passava de um punhado de matéria orgânica inanimada, como todos os que estavam ao meu redor.

O incômodo silencioso de alguém que não se dava mais conta da própria existência parece que moveu os olhos Daquele que tudo vê em minha direção e, em seu imensurável Amor, criou do nada um conjunto de circunstâncias, agindo da mesma forma que agiu o profeta Ezequiel, movido pelo Espírito Santo de Deus.

Mesmo "espalhado", dentro de mim passei a sentir que algo queria que eu me reorganizasse. Parecia que eu estava ouvindo ao longe alguém dando ordem a meu respeito:

“Então ele me disse: "Profetize a estes ossos e diga-lhes: Ossos secos, ouçam a palavra do Senhor! Assim diz o Soberano, o Senhor, a estes ossos: Farei um espírito entrar em vocês, e vocês terão vida. Porei tendões em vocês e farei aparecer carne sobre vocês e os cobrirei com pele; porei um espírito em vocês, e vocês terão vida. Então vocês saberão que eu sou o Senhor". E eu profetizei conforme a ordem recebida. Enquanto profetizava, houve um barulho, um som de chocalho, e os ossos se juntaram, osso com osso. Olhei, e os ossos foram cobertos de tendões e de carne, e depois de pele; mas não havia espírito neles”. (Ez. 37.4-8)

O que tinha sido decomposto e absorvido pela terra, pelos sofrimentos e pela roda viva que nos consome diuturnamente passou a se reagrupar. Tive novamente a sensação de haver esperança para mim. Via-me de fora da cena, lembrei-me de quem eu era, mas sentia que faltava algo. Não bastava tudo estar em seu lugar sem que houvesse dentro de mim o fôlego, o elam que tinha nos primeiros dias.

Novamente, ouvi alguém falando a este respeito:

“A seguir ele me disse: "Profetize ao espírito; profetize, filho do homem, e diga-lhe: Assim diz o Soberano, o Senhor: Venha desde os quatro ventos, ó espírito, e sopre dentro desses mortos, para que vivam". Profetizei conforme a ordem recebida, e o espírito entrou neles; eles receberam vida e se puseram em pé...”
(Ez 37.9-10a)

Era comigo... O Vento sobrou o fôlego em minhas narinas e passei a não apenas me sentir recomposto fisicamente, mas também voltando a me dar conta de que eu era muito mais do quê pedaços de tecido humano reagrupados. Eu não era um acidente cósmico, fruto de uma hipotética evolução das espécies. Eu era um templo no qual havia um espírito e Um Espírito!

Mais do que isso. Olhei ao meu redor e pude ver que vários outros se encontravam na mesma situação e também clamaram silenciosamente para que aquele caos entrasse em ordem. “...Era um exército enorme!” (Ez 37.10b)

Então eu entendi. Todos nós, os filhos de Deus, estávamos passando pelo mesmo momento. Todos nós estávamos caminhando sem direção, mesmo dentro do sistema, sistema esse que nos tirou a alma, destruiu nossas vidas e espalhou os restos no mais profundo vale.

Num outro nível pude entender que, na verdade, aquela voz que eu ouvia era o Espírito Santo de Deus que agia em todos os campos de minha vida para efetuar aquela obra maravilhosa demais para meu entendimento. Passei a discernir que meus clamores silenciosos eram apresentados ao Senhor como uma oração feita de dentro de mim pelo Espírito Santo. Por todos os lados, Ele estava cuidando de mim, reconstruindo minha vida e a vida de todos aqueles que se encontravam na mesma situação.

Pude entender, através de Seu Espírito Santo, que realmente todos nós estávamos como a nação de Israel nos dias do profeta Ezequiel:

“Então ele me disse: "Filho do homem, estes ossos são toda a nação de Israel. Eles dizem: 'Nossos ossos se secaram e nossa esperança desvaneceu-se; fomos exterminados'. Por isso profetize e diga-lhes: Assim diz o Soberano, o Senhor: Ó meu povo, vou abrir os seus túmulos e fazê-los sair; trarei vocês de volta à terra de Israel. E quando eu abrir os seus túmulos e os fizer sair, vocês, meu povo, saberão que eu sou o Senhor. Porei o meu Espírito em vocês e vocês viverão, e eu os estabelecerei em sua própria terra. Então vocês saberão que eu, o Senhor, falei, e fiz. Palavra do Senhor." (Ez 37.11-14)

Gente boa de Deus. Acabei de viver isso em minha vida. Lembrei-me de como todo este caos se instalou em minha vida e agradeço a Deus pelo seu Amor incondicional, amor este que me deu Seu Espírito e está reconstruindo tudo o que foi destruído em minha vida e na vida de meus amados.

Não sei como terminar este texto, desculpem...

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