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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Orem pelo Rio de Janeiro


“Ora, naquele mesmo tempo estavam presentes alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios deles. Respondeu-lhes Jesus: Pensais vós que esses foram maiores pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. Ou pensais que aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E passou a narrar esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás.” - Lucas 13:1-9

Este é um daqueles textos bíblicos que lemos mas que, aparentemente, não tem nada a dizer diretamente a nós, até o momento em que há uma conjunção entre os fatos cotidianos e o insight do Espírito Santo, traçando uma ponte entre os fatos.

Quando li este texto esta manhã confesso que me assustei com o que entendi. Vivendo neste contexto complexo que é a cidade do Rio de Janeiro, não tive como não fazer uma ponte imediata entre a Palavra e tudo o que tenho visto por estes lados.

De cara, quero que me entendam: Não pensem que estou fazendo uma leitura preconceituosa em relação a esta cidade, muito menos espero estar passando uma idéia religiosa de alguém que crê num deus (dê minúsculo) de causa e efeito, mas sim de um Deus que não age somente por Justiça, mas que – acima de tudo – age com Graça, Misericórdia e AMOR.

Isso me faz lembrar de um interessante diálogo entre o Senhor e Abraão:

“Disse-lhe, pois, o Senhor: "As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas e o seu pecado é tão grave que descerei para ver se o que eles têm feito corresponde ao que tenho ouvido. Se não, eu saberei" Os homens partiram dali e foram para Sodoma, mas Abraão permaneceu diante do Senhor. Abraão aproximou-se dele e disse: "Exterminarás o justo com o ímpio? E se houver cinqüenta justos na cidade? Ainda a destruirás e não pouparás o lugar por amor aos cinqüenta justos que nele estão? Longe de ti fazer tal coisa: matar o justo com o ímpio, tratando o justo e o ímpio da mesma maneira. Longe de ti! Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?" Respondeu o Senhor: "Se eu encontrar cinqüenta justos em Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles". Mas Abraão tornou a falar: "Sei que já fui muito ousado ao ponto de falar ao Senhor, eu que não passo de pó e cinza. Ainda assim pergunto: E se faltarem cinco para completar os cinqüenta justos? Destruirás a cidade por causa dos cinco?" Disse ele: "Se encontrar ali quarenta e cinco, não a destruirei". "E se encontrares apenas quarenta?", insistiu Abraão. Ele respondeu: "Por amor aos quarenta não a destruirei". Então continuou ele: "Não te ires, Senhor, mas permite-me falar. E se apenas trinta forem encontrados ali?" Ele respondeu: "Se encontrar trinta, não a destruirei". Prosseguiu Abraão: "Agora que já fui tão ousado falando ao Senhor, pergunto: E se apenas vinte forem encontrados ali?" Ele respondeu: "Por amor aos vinte não a destruirei". Então Abraão disse ainda: "Não te ires, Senhor, mas permite-me falar só mais uma vez. E se apenas dez forem encontrados?" Ele respondeu: "Por amor aos dez não a destruirei". Tendo acabado de falar com Abraão, o Senhor partiu, e Abraão voltou para casa”. – Gênesis 18:20-33

Para mim, traçar um paralelo entre as palavras de Jesus, o diálogo entre Deus e Abraão quanto as acusações contra Sodoma e Gomorra e o que tenho visto aqui no Rio de Janeiro é algo (infelizmente) natural, ao mesmo tempo em que me constrange, me deixa pisando em ovos, com “medo de apanhar” do pessoal, mas – antes e acima de tudo – com uma coisa queimando dentro de meu peito, me impulsionando a escrever.

Outro dia sonhei com o prédio em que eu moro. No sonho, estava na sala do “nosso apartamento alugado” e notava que as paredes começavam a se esfacelar aos poucos, como se fossem feitas de areia. Conseguia olhar entre uma parede e outra através das frestas que se abriam, via o que acontecia no apartamento ao lado, sentia que devia sair correndo dali antes que desabasse tudo, mas estranhamente temia ir para a rua por não me sentir seguro perante as pessoas que – naquele sonho – eram hostis a mim.

Puta viagem, talvez você diga...

Também acho, respondo eu. Entretanto, confesso que depois daquele sonho passei a sentir um desejo imenso de sair de lá. Todavia, não me via saindo de lá e indo para outro lugar no Rio, ao mesmo tempo em que não queria sair da cidade. Acho que me senti como inicialmente deve ter se sentido Ló ao receber a instrução de sair de casa levando todos os seus amados antes do Senhor colocar abaixo tudo aquilo.

Isso foi (e está) crescendo dia a dia dentro de nós (a Cilene compartilha das mesmas “sensações”) e temos orado para que Deus nos mostre a melhor opção, pois estamos falando de mudança literal, e não de uma coisa qualquer.

Voltando ao início de tudo (o texto de Lucas), não tive como não ler o texto e não me lembrar do prédio que caiu “do nada” no Centro do Rio de Janeiro. Quem estava no prédio não eram maiores pecadores do que os que estavam do lado de fora. Entretanto, o prefeito Eduardo Paes disse algo que veio ao encontro do que eu – temendo e tremendo – tenho visto aqui no Rio de Janeiro, quando quatro (isso foi o que conseguiram flagrar, certamente muitos mais) funcionários da concessionária do Porto estavam roubando dos entulhos os pertences das vítimas:

"Eu acho que são uns delinqüentes. Ali está a miséria humana retratada. É inacreditável que alguém numa situação como essa vá roubar --aquilo é roubo-- de um entulho vindo de uma tragédia como aquela. Eu vejo com muita tristeza, com uma certa raiva. Os nomes já foram passados para a polícia e eles serão demitidos da concessionária lá do Porto"


Aqui no Rio de Janeiro impera a Lei de Gerson: O IMPORTANTE É LEVAR VANTAGEM EM TUDO. Se tá bom para mim, FODA-SE O RESTO. Isso está impregnado no ar. Isso você vê todos os dias em todas as áreas possíveis, do lixo jogado na praia ao motorista que costura, fecha, xinga, estaciona sobre a calçada ou de qualquer jeito e acha que está certo. A sensualidade exacerbada impregna o nariz de quem não compartilha dos mesmos “valores”. Você não pode reclamar do bar em frente à sua casa por ele estar tocando funk nas alturas durante toda a madrugada. Literalmente, eles te ameaçam e você se torna refém dentro de sua casa.

Hoje mesmo, dentro do Terminal Alvorada, tinha um pedestre dando porrada no vidro de um ônibus parado, enquanto discutia com o motorista em altos brados/palavrões. Ninguém fez nada. Assim como ninguém faz nada quando bueiros explodem e ceifam vidas. Assim como a Gilka Machado é um campo de entulho e podridão pelo fato dos moradores jogarem seus dejetos embalados em sacolas plásticas de supermercado no meio da rua. Mendigos, cachorros e urubus disputam o prêmio e – cada vez mais – me sinto menos “gente” por estar inserido neste contexto e não poder falar nada sem correr risco de vida.

Não pensem que estou exagerando. Aqui, a inversão de valores é gritante. A mãe, na porta do boteco, chama seu filho de filho da puta (ela certamente sabe de quem está falando) por ele estar chorando, enquanto ela toma todas às altas horas da madrugada. O marido, outro cachaceiro, olha aquilo tudo com a maior naturalidade. A mesma mãe, já com os filhos despachados, começa a gritar, falar putaria, discutir e – quando um vizinho reclama da gritaria por estar com a esposa doente em casa – é ameaçado e xingado por todos os cachaceiros... “desce aqui seu filho da puta!” ou “a rua é pública porra!”. Ao final da discussão, ela chama outro homem para ir beber com ela em outro bar, na frente do marido, dizendo “vamos lá fulano, meu marido não quer ir e eu quero sair. Hoje eu vou pagar para macho sair comigo, vamos! Vamos! Ele não manda em mim!”...

Outro dia, no mesmo bar, um homem mordeu o olho de uma mulher (sim, mordeu o olho que enxerga, na cara...) numa briga, arrancando sangue, enquanto os dois rolavam no meio do pó da rua. No bar, todos olhavam, alguns riam da situação, ninguem fez nada, tirando eu, que tive a infeliz idéia de ligar para o 190. Em resposta, o dono do bar intimou minha mulher na entrada do prédio, dizendo que "alguém tinha ligado para a polícia e ele iria descobrir quem tinha ligado e denunciar nosso prédio por este não RGI", o que - em São Paulo - chama-se de Habite-se...

Poderia citar zilhões de pequenos dramas testemunhados por mim, mas não creio ser necessário. Há três anos vejo esta figueira não dar frutos, frutos de arrependimento, frutos de um espírito coletivo que indique a possibilidade de alguma mudança. Esta é a cidade que vai receber Copa do Mundo e Olimpíadas. Esta é a cidade que está sendo totalmente repaginada, mas que não tem um alicerce moral que indique que a mudança da fachada virá acompanhada de uma metanóia, de uma mudança de pensamentos e de valores.

Estou no Rio a 3 anos. Coincidência demais para mim, pois a três anos procuro frutos nesta figueira. Por mais um ano, (não literalmente, mas espiritualmente... no contexto de “para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos são como um dia...”) o Senhor permitirá que a terra seja adubada com estrume. Caso ela continue não gerando frutos, esta figueira será cortada.

Orem pelo Rio de Janeiro. Orem por nós, que aqui estamos. Está doendo escrever isso, mas é o que tenho recebido do Senhor...

1 comentários:

  1. É bom encontrar postagens que se possa ler e meditar, é bom encontrar irmãos que se esforçam para se manterem íntegros, que se afastam do pecado, e o desmascaram. É bom encontrar irmãos que amam mais a Jesus do que aposição que ocupam. É bom encontrar irmãos que se alegram na verdade e falam dela como uma forma de vida, Isto alegra o coração de Deus, e traz verdadeira recompensa. A pessoas assim deixo um abraço em Cristo Jesus, e que a paz e a graça de Jesus sature o seu coração.

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...