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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Hoje eu o conheço...


Eu o conhecia de ouvir falar, através das missas, da primeira comunhão forçada por meus pais (como todos os bons pais “católicos-apostólicos-romanos-fervorosamente-católicos-mas-não-praticantes”) para cumprimento dos deveres religiosos, através das rezas decoradas nos catecismos, o que me faziam crer que este tal de “deus/jesus” deveria ser muito chato e exigente, perigoso por costumar ficar escondido atrás das moitas localizadas nos caminhos dos pobres seres humanos pecadores, somente para poder dizer “ahá!!!! Pecou de novo! Vai para o inferno se não confessar para o padre e rezar 25789 aff-marys + 42532 pai-nossos!!!"

Não conseguia sequer imaginar que este deus/jesus era alguém que um dia eu iria ter algum tipo de relação sadia. Pelo contrário, tinha medo dele, verdadeiro pavor. Sonhava com coisas absurdas no mundo espiritual, um deus castrador, manipulador dos resultados, inimigo dos pecadores e amigo dos que eram amigos dos padres, das freiras e das beatas.

Imaginava que ele não gostava de nós. Por este foco, imaginava que ele achava que nós éramos tão úteis como pulgas, baratas e percevejos. Nesta minha relação, me sentia totalmente inconveniente, tipo um parasita no meio dos bonzinhos que conseguiam fazer tudo de acordo com o que ele decretava através dos 10 mandamentos, também decorados na marra para satisfazer as necessidades de nossos pais de não terem filhos “pagãos” (sei que assim era considerado os que não eram batizados quando nascessem, mas também era meio pagão os que não fizessem primeira comunhão e crisma, algo que até hoje não sei o que significa).

No decorrer de minha vida desandei, passei a me comportar em rebeldia com os padrões impostos pela religião. Até por isso, passei a considerar este deus bisbilhoteiro como um inimigo perigosíssimo pelo fato dele viver querendo me ferrar, enquanto eu estava cagando e andando para ele. Ao mesmo tempo acontecia algo insólito: Ele me atraía e eu me deixava ser atraído por ele! Como isso poderia se dar? Ser amigo desse deus sádico era algo contraditório! Não sabia explicar. Não era querer ser amigo, nem também ter medo de ir para o inferno.

Aliás, passei a flertar com o inimigo numa boa, por achá-lo mais democrático (literalmente demo-crático, entendeu a anedota?), mais gente boa e gostar de tirar foto para sair em quadrinhos e filmes de terror que eu tanto gostava. Por esta razão, até nos arraiais satânicos procurei preencher meus vazios existenciais, crendo que o vermelhão não era tão mal assim, deveria ter alguma coisa de bom por ser tão “fun to be with”.

À medida que o tempo foi passando porém, um dia descobri que estava totalmente enroscado nas redes do inimigo e precisava me libertar. Pedi arrego e fui para a igreja. “Convertido”, comprei (ou ganhei) meu primeiro “LPA” (livro preto anacrônico, maneira “carinhosa” que uns revoltadinhos com o Senhor chamam a Bíblia) e comecei a ler.

Lia, lia, lia e ia gostando de quase tudo pois, na boa, alguns trechos eram demasiadamente enfadonhos, como as longas genealogias e as descrições de como cada canto do templo deveria ser construído. Nesta, coloquei o capeta para escanteio literalmente e comecei a me relacionar com aquele Deus que antes eu temia (e quê, daqui em diante, será escrito com letra maiúscula).

Várias igrejas, várias doutrinas, vários pacotinhos de regras a seguir, várias proibições e eu lá, já tendo uma relação com o Jesus que até pouco tempo antes eu não conhecia pessoalmente, mas resistindo bravamente aos pacotes de usos e costumes impostos.

O problema foi que este Jesus até então desconhecido não era o mesmo jesus que me fora apresentado na religião e isso me deixava em crise. O que fazer perante este Homem/Deus chamado Cristo? Condicionado ao pensamento de quê este Jesus que eu me apaixonava cada dia mais tinha sido inicialmente apresentado a mim na religião, passei a viver com este incômodo paradoxo de procurá-lo nos templos mas não ter mais do quê breves vislumbres de sua glória nestes lugares.

Como isso podia acontecer? Tentando me enquadrar, me sentia o pior dos homens, mas não no sentido em que Paulo se disse “...dos pecadores, dos quais eu me considero o pior” (1 Tm 1:15) mas no sentido de não me sentir parte de tudo aquilo que eu via meus irmãos fazerem e viverem. Por dentro, não me enquadrava mas queria fazer parte de tudo aquilo, e o fiz sinceramente diversas vezes mas, na grande maioria do tempo, me considerava um hipócrita usando máscaras religiosas para ser aceito pelo grupo.

Tinha medo de ser rejeitado. Tinha medo de descobrirem que ainda ouvia música secular, tomava vinho e gostava de sair a noite para me divertir com os amigos. Quanto a isso era ainda pior: Não conseguia me divertir com os conhecidos das igrejas que freqüentei. Meus amigos eram de fora e com eles a coisa funcionava. Destes amigos, alguns eram cristãos que também usavam máscaras em suas igrejas mas chegavam em minha casa e juntos gozávamos de momentos de comunhão impagáveis.

“E agora João? Continua, insiste, persiste, engole, se enquadra! Se Jesus é o Caminho (e a Universal é o pedágio, rerê) e Ele mora aqui (na igreja), isso que você vive fora é fruto de algum surto psicótico. Na verdade você é um grande hipócrita mesmo por ter vida dupla!”

Era torturado por este tipo de pensamento!

Por outro lado, como negar que eu sentia a presença de Deus nas situações mais absurdas possíveis (avaliando pelo parâmetro religioso)? Como dizer que tudo o que eu vivia e vivo era uma heresia sem tamanho?

Jesus falou:

Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem”, e também “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem” (João 10.14, 27)

Como dizer que não o conheço? Como negar minha relação pessoal com Ele só pelo fato desta relação não se enquadrar no “gospel way of life”? Pelo meu estilo de vida, canso de ver irmãos tentando me evangelizar (evangelizar para estes significa me levar para a igreja deles). Tenho eu o direito de falar para eles algo que eles deverão descobrir pessoalmente, buscando esta relação fora dos arraiais da religião?

São algumas perguntas que não espero que vocês respondam para mim e sim para vocês próprios.

Hoje eu me vejo como Ele me vê. Descobri que nada do que faço me fará ser mais amado por Deus. Pelo contrário! Este amor é de graça, a tal da GRAÇA em seu sentido mais pleno, o favor imerecido de Deus que me amou primeiro.

Hoje “somos assim” um com o outro. Tomo decisões com a mente de Cristo, vivo a vida Dele em mim e isso, sinceramente, passa a anos-luz da religião estabelecida...

4 comentários:

  1. Pastor,

    Amo ler tuas narrativas pessoais... Amo saber cada vez mais nuances dessa trajetória incrível, ce sabe, já! Não é nenhuma novidade. E o interessante é que, cada vez que leio algo 'do tipo' escrito por ti, tem sim, som e cor de novidade. Isso é que é super interessante!

    LPA rss pegou mesmo? Tanto quanto bispa, pastor, sacerdotisa, apóstolo, tradutor de línguas... e por aí vai he he

    Somos "assim" um com outro é a melhor parte disso tudo...

    Valeu pelo texto saboroso.

    Beijos na Cil,

    O&A

    R.

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  2. eita!

    estou processando.

    É um texto estilo bomba atÔmica com gostinho de boas novas.

    também agradeço

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  3. Fico pensando, Jotacê,

    Será que realmente temos "breves vislumbres de Sua glória nestes lugares"? Será que isto não é, apenas, resultado do apelo emocional tão profissionalmente exercitado naqueles lugares? Pergunto isto, porque é o que sempre senti...

    Mais uma vez, a bispa e a sacerdotisa expressaram a verdade! Mais uma vez, concordo com elas!!!

    Abração e Paz!

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  4. Só o Jotacê mesmo, com essa carinha despretensiosa, pra reunir a cúpula eclesial da IBL aqui...

    rsss

    Saudade de todos! (Dos aqui presentes e dos outros...)

    Rê.

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...