Já escrevi algo sobre este assunto, mas não detalhei como hoje sinto vontade de fazer...
Em minha busca para encontrar um sentido à vida, bati em várias portas: Nasci católico, fui para o kardecismo, flertei com o Johrei, brinquei com magia negra, satanismo e religiões afro-brasileiras.
Queria algo que ‘funcionasse’ realmente, e nessa busca fui levado a uma cartomante que simplesmente destrinchou meu passado, dando detalhes de fatos que ocorreram no ‘oculto’. Fiquei impressionado e ela disse que me apresentaria ao líder espiritual dela, um pai-de-santo do Rio de Janeiro que uma vez por mês vinha para São Paulo.
No dia marcado fui até onde ele atendia; um senhor simpaticíssimo, sorriso de orelha a orelha, parecia com o Neguinho da Beija-Flor. Ele me olhou de cima abaixo, me chamou para entrar e sentar. Ao meu redor diversas imagens de orixás, velas, flores, oferendas e sacrifícios de animais. No ar um odor nauseabundo de bebida misturada com coisa estragada. À minha frente um tabuleiro com búzios. Ele jogou os búzios e começou a destrinchar vários fatos de minha vida, de minha personalidade.
Como disse antes, queria algo que funcionasse, e aquilo funcionava. Foi pedido que eu fizesse alguns trabalhos e eu os fiz. Com o decorrer do tempo, tornei-me freqüente no centro e ansiava que ele viesse a São Paulo. Assim foi indo, foi indo até eu decidir dar o próximo passo e freqüentar as sessões. Daí em diante veio o velho papo de que eu era médium e precisava desenvolver.
Comprei roupa branca e passei a ser o que se chama de filho-de-santo. Fiz ofertas e sacrifícios em encruzilhadas, matas e no terreiro. Participava ativamente de todas as atividades do centro.
MAS havia um detalhe: o pai-de-santo era homossexual e estava apaixonado por mim. Haviam outros rapazes no centro que também eram homossexuais e eram apaixonados pelo pai-de-santo, mas ele não queria nada com eles e sim comigo. Isso gerava um stress, uma ciumeira brava, era uma belêeeeza. Mas não ligava para isso, pois eu não era nem queria ser, muito menos ter algo com ele. Na verdade ser filho-de-santo gerava certo status e eu estava catando uma menina muito bonita que freqüentava o terreiro.
Um dia o pai-de-santo, por alguma razão que agora não lembro, disse que eu precisava tomar um banho de ervas, e quem daria o banho seria ele. Não estava nem ai. Fui, tirei a roupa e ele me banhou. Ele tremia e ficava falando baixinho: “Eu não posso, eu não posso tocar nele...” Eu me fiz de desentendido e amenizei a situação, dizendo a ele que, seu eu fosse ou tivesse inclinações homossexuais nós poderíamos sim ter um caso, mas aquela possibilidade era nula. Após me vestir, abracei-o, me despedi e fui pra casa.
Com o passar do tempo as coisas foram ficando mais sérias e meu envolvimento com os espíritos foram se intensificando, MAS (agora um “mas” bom) NUNCA, em nenhuma sessão, manifestei um espírito. Tava todo mundo lá, rodando e gritando, dançando com as mãos para trás e eu via tudo aquilo com muita inveja, sem entender o porquê d’eu não ‘entrar na dança’.
Certa feita, estávamos numa sessão que chamavam de ‘feijoada de preto-velho’, todos doidos para que começasse logo a comilança consagrada aos demônios, quando de repente o pai-de-santo, que estava em minha frente, foi arremessado no ar e caiu a uma distância de uns três metros de mim. Correram para levantá-lo mas não foi necessário: Ele saltou em pé do jeito que caiu, manifestado no que ele se auto-entitulou 'Lúcifer'. Logicamente não era o dito-cujo, pois esse tem mais o que fazer nas grandes questões mundiais, manipulando grandes líderes, envolvido em armar guerras e grandes conflitos, trazendo miséria e destruição em grande escala, não no 'varejo'. Ali era um demônio mentiroso querendo trazer terror aos presentes.
Ele dizia que haviam começado a sessão sem que lhe pedissem autorização nem que lhe oferecessem as oferendas necessárias para que ele autorizasse o trabalho. Imediatamente ‘todos se retrataram’, fizeram os sacrifícios ao ‘manda-chuva’ e a feijoada pode ter andamento.
Nesta época trabalhava no Itaú e também freqüentava o terreiro da avó de uma colega de trabalho. Resumindo um dos vários casos, quando me firmei com o outro pai-de-santo e deixei de freqüentar o terreiro dela, a avó de minha colega instruiu-la a fazer um despacho em frente a minha casa por vingança. Saí de manhã para o trabalho e vi lá toda aquela oferenda. Já tinha sido ensinado pelo pai-de-santo que numa situação daquelas eu deveria mijar em cima da oferenda e aquele feitiço seria anulado.
Cheguei no banco, abri meu caixa e ela chegou. Quando ela me viu se assustou por eu estar ali, firme e forte. Fui até ela e disse: ‘Lulão (esse era o apelido dela), você não sabe o que aconteceu: Fizeram um despacho para mim na frente de minha casa, mas já desfiz o feitiço. Estou com pena de quem fez isso”. Ela empalideceu, abriu o caixa dela e, logo em seguida, começou a tossir até não agüentar mais. Foi levada imediatamente ao médico e ficou afastada por uma semana, quando então voltou. Alguns dias depois o pai dela morreu misteriosamente de uma doença que ninguém soube explicar qual era. Terrível coincidência?
Um determinado dia, o pai-de-santo me disse que eu teria que dar um grande passo na minha 'evolução'. Ele começou a me explicar que eu teria que fazer minha cabeça. Queria me levar para o Rio de Janeiro e lá eu ficaria no centro dele um mês confinado no roncó, uma espécie de quartinho escuro onde não sairia por nada, me alimentando de coisas podres, tomando banho de abó e saindo de lá totalmente encapetado.
Disse-me também que eu deveria ter meu próprio (???). Isso eu não lembro o nome, mas sei explicar mais ou menos. Eu e o pai-de-santo deveríamos ir ao cemitério, desenterrar um cadáver recém enterrado, roubar o corpo, adorná-lo e cuidá-lo como se fosse meu ‘protetor’. Não sei explicar com a linguagem deles, pois isso já tem mais de vinte anos. Eu e o defunto teríamos uma ligação íntima, seríamos como se fossemos um só. Ele me protegeria e eu cuidaria dele, como se fosse vivo.
Assustei-me um pouco, mas sempre fui fundo em tudo o que fiz e aceitei o convite.
Quando disse sim, o pai-de-santo teve uma reação estranha. Empalideceu e começou novamente a dizer: "Eu não posso, eu não posso fazer isso com ele"...
Com o tempo nos afastamos. Fiquei ‘ateu’ por um bom tempo, apenas curtindo a vida, longe da feitiçaria. Me converti, mudei meu rumo e minha história e hoje estou aqui, firmão na presença de Jesus. O passado passou, digamos assim. Ficaram as tristes lembranças de tudo isso, que foram lavadas com o precioso Sangue de meu Senhor.
De tudo o que escrevi acima, gostaria de comentar uma coisa: Notaram que todas as vezes que o pai-de-santo tentava ir além comigo ele dizia “não posso, não posso fazer isso com ele”? Notaram que, nesta minha busca pelo que eu julgava ser 'de Deus', nenhuma vez manifestei nenhum espírito imundo? Por mais que sinceramente quisesse dar os próximos passos em direção ao que na verdade eram trevas as coisas simplesmente não funcionavam?
Não creio em predestinação. Creio na onisciência de Deus e em sua intervenção poderosa. Quantas vezes ouvimos testemunhos de irmãos que, em situações parecidas, foram blindados pelo Senhor e o feiticeiro era obrigado a dizer, a muito contra gosto, que “naquele ele não poderia tocar pois ele pertencia ao homem lá em cima”?
Assim foi comigo, para honra e glória do Senhor.
Quero glorificar a Deus...
“LOUVAREI ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca. A minha alma se gloriará no Senhor; os mansos o ouvirão e se alegrarão. Engrandecei ao Senhor comigo; e juntos exaltemos o seu nome. Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores. Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos. Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias. O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra. Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia”. – Salmo 34:1-8
P.S: Não foi fácil escrever sobre isso, tive uma noite de batalha espiritual intensa desde que decidi dar meu testemunho sobre estes fatos. Estou com os olhos cheios de lágrimas ao lembrar de tudo isso e de reler este trecho dos Salmos que fala muito fundo ao meu coração, pois nele vejo o quanto a mão de Deus esteve sobre minha vida por todos os caminhos que trilhei na ignorância, mas de coração sincero.