"Não é pesado o labor do homem na terra? Seus dias não são como os de um assalariado? Como o escravo que anseia pelas sombras do entardecer, ou como o assalariado que espera ansioso pelo pagamento, assim me deram meses de ilusão, e noites de desgraça me foram destinadas. Quando me deito, fico pensando: Quanto vai demorar para eu me levantar? A noite se arrasta, e eu fico me virando na cama até o amanhecer. Meu corpo está coberto de vermes e cascas de ferida, minha pele está rachada e vertendo pus. Meus dias correm mais depressa que a lançadeira do tecelão, e chegam ao fim sem nenhuma esperança. Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida não passa de um sopro; meus olhos jamais tornarão a ver a felicidade. Os que agora me vêem, nunca mais me verão; puseste o teu olhar em mim, e já não existo. Assim como a nuvem se esvai e desaparece, assim quem desce à sepultura não volta. Nunca mais voltará ao seu lar; a sua habitação não mais o conhecerá. Por isso não me calo; na aflição do meu espírito desabafarei, na amargura da minha alma farei as minhas queixas. Sou eu o mar, ou o monstro das profundezas, para que me ponhas sob guarda? Quando penso que a minha cama me consolará e que o meu leito aliviará a minha queixa, mesmo aí me assustas com sonhos e me aterrorizas com visões. É melhor ser estrangulado e morrer do que sofrer assim; sinto desprezo pela minha vida! Não vou viver para sempre; deixa-me, pois os meus dias não têm sentido. Que é o homem, para que lhe dês importância e atenção, para que o examines a cada manhã e o proves a cada instante? Nunca desviarás de mim o teu olhar? Nunca me deixarás a sós, nem por um instante? Se pequei, que mal te causei, ó tu que vigias os homens? Por que me tornaste teu alvo? Acaso tornei-me um fardo para ti? Por que não perdoas as minhas ofensas e não apagas os meus pecados? Pois logo me deitarei no pó; tu me procurarás, mas eu já não existirei". – Jó 7
Muitos esperam que nós cristãos, estejamos sempre firmes, crentes e fortes, mesmo no meio de um turbilhão de problemas e emoções que fazem com quê tenhamos que nos esforçar de maneira sobrenatural para ficarmos com a cabeça fora das águas turbulentas que nos puxam com toda força para o fundo.
Nestes momentos, praticamente nada faz sentido. Não sentimos prazer em nada e não queremos ser consolados. Apenas queremos ficar quietos em nosso canto ou, se formos falar algo, certamente só virá palavras de desabafo, coisas que brotam do mais profundo de nosso ser, palavras encharcadas de dor, algumas vezes palavras aparentemente injustas, cheias de amargor e confusão.
Este é um momento nosso. Todos passam por estes momentos e quem os atravessa não gosta de ser interrompido ou julgado.
Este desabafo de Jó no capítulo 7 é um destes momentos. Sua palavras foram dirigidas diretamente a Deus e não aos seus “bons amigos” que, de útil, apenas estiveram calados por sete dias ao lado dele, sem falar uma palavra.
Quando o pobre do Jó, porém, decidiu desabafar, seus grandes amigos vieram com uma enxurrada de religiosidade do tipo “Deus abençoa os justos e pune os perversos. Se você está sendo punido certamente está em pecado. Portanto, se arrependa, se coloque em seu lugar e peça perdão a Deus que aí Ele vem e arruma sua vida”.
Cara, isso é foda. Jó já tinha que lidar com as perdas familiares, emocionais e financeiras e agora se via obrigado a se defender das acusações de pecado. Para nós que conhecemos o texto bíblico é fácil entender o contexto do sofrimento de Jó. Seus amigos, porém, apenas enxergavam o aparente do aparente e faziam seus próprios julgamentos.
Jó queria apenas ficar sozinho com Deus. As perguntas que ele fazia eram basicamente direcionadas a Deus. Ele sabia da relação que tinha com Ele e questionava a razão de seu sofrimento e de sua existência. Seus amigos não entendiam que ele não estava tentando provar para eles que ele era justo e estava sofrendo injustamente.
Ele apenas queria ouvir de Deus os motivos de seu sofrimento. Vejo aí uma relação profunda e sincera com o Senhor, uma relação de quem anda lado a lado e não uma relação de quem não tem nenhum tipo de intimidade. Jó estava cansado do sofrimento e queria apenas entender a razão daquilo tudo! Numa situação dessas, dificilmente conseguimos ser racionais. Ou melhor, talvez sejamos até racionais demais e passamos a questionar até a razão de nossa existência, como fez nosso herói.
Lógico que tudo o que ele perdeu foi reposto em dobro. Ao mesmo tempo, certas perdas são simplesmente irreparáveis. Perder sete mil ovelhas e ser reembolsado em quatorze mil é, na verdade, um excelente negócio, assim com as demais perdas materiais. Por outro lado, Perder dez filhos e ter mais dez já é algo complicado, pois neste caso se tratam de relacionamentos afetivos. Anyway, na sabedoria adquirida por Jó através desta dura experiência vivida, ele assimilou os golpes sofridos e recomeçou sua vida.
Interessante porém foi que Deus, mesmo depois de ouvir todo o desabafo de Jó, não se indignou com ele e sim com aqueles que falaram insensatamente a respeito da maneira que eles acreditavam que Deus costumava agir:
“Depois que o Senhor disse essas palavras a Jó, disse também a Elifaz, de Temã: "Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó. Vão agora até meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês mesmos. Meu servo Jó orará por vocês; eu aceitarei a oração dele e não lhes farei o que vocês merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó". Então Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamate, fizeram o que o Senhor lhes ordenara; e o Senhor aceitou a oração de Jó. Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes.” – Jó 42.7-10
Amados, com isso tudo quero dizer que temos toda liberdade do mundo de virar para Deus e expor nossas dores, nossa dúvidas. Ele não vai ficar magoadinho conosco. Pelo contrário, Ele nos chama para uma relação madura, sadia, sem máscaras nem religiosidade. Lógico que nesta relação vamos falar mas também vamos ouvir. Mas isso é o que acontece para aqueles que se dispõem a sair da zona de conforto oferecida pela religião e assume uma relação pessoal com o Senhor.
Pessoalmente prefiro assim. Glorifico também o Senhor por meus bons amigos cristãos. Quando o Senhor não fala comigo diretamente, Ele o faz através dos meus amados irmãos. Não os religiosos, sim os verdadeiros amigos, profetas, bocas de Deus aqui na terra...
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Amigos de Jó, AMIGO de Deus...
2 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
"Glorifico também o Senhor por meus bons amigos cristãos. Quando o Senhor não fala comigo diretamente, Ele o faz através dos meus amados irmãos. Não os religiosos, sim os verdadeiros amigos, profetas, bocas de Deus aqui na terra..."
ResponderExcluirValeu, pastor!
Óia, Pastô,
ResponderExcluirEu gosto muito do Evangelho de Jó!!! Era uma época em que a Lei ainda não existia, mas já existiam os legalistas. E, nessa época, esse nosso herói (como você disse e eu concordo) vivia como se toda essa lei apresentada pelos legalistas, já tivesse sido encravada em uma cruz, antes mesmo que houvesse Criação. E isto fazia com que esse cara buscasse um relacionamento direto e contínuo com o Deus Pai e Criador. E ele tinha esse relacionamento.
Depois de perder todos os filhos, todos os bens e todas as posses, o cara simplesmente agradece ao Senhor por ter tido a oportunidade de curtir tudo isso! E ficar sem nada disso não importava! O que importava era, apenas, que o Senhor falasse com ele. Então, ele apresenta escancaradamente o que passava por seu coração. Ele simplesmente, mais uma vez, obedecia a Jesus (que veio fisicamente muito depois) apresentando todas as suas ansiedades diante do Senhor. Isto é intimidade! É falar com o Pai, não com um juiz austero, insensível, sem amor e sem misericórdia. Juiz, sim, mas com a Perfeita Justiça que é resultado desse amor.
O resultado dessa intimidade é o mesmo que aconteceu com Jó: o próprio Senhor fala conosco, diretamente, ainda que, vez em quando, use Seus servos, Seus profetas, que Ele, providencial e antecipadamente, transforma e nossos amigos.
Seus olhos têm sido e têm estado abertos, Jotacê! Isto é muito bom!!! Graças a Deus que posso dizer que tenho você como amigo!!!
Abração e Paz!