“E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.” – Hebreus 10.24-25
Atualmente sou membro nominal de uma Igreja Batista na Barra da Tijuca (tranqüilo, existem várias na região), igreja conhecida e famosa pelo (propagandeado) amor existente entre os irmãos. Não chega a ser grande, deve ter uns (chute) mil membros e todos são higienicamente simpáticos. Não acho uma grande igreja pelo fato de estar acostumado a outras denominações por quais já passei. Algumas delas com templos faraônicos, outras nem tanto. Em comum, todas tinham um extenso rol de membros.
No início, tentava me enturmar com aqueles que costumavam sentar nos bancos próximos aos meus. Havia uma simpatia ligeiramente mecânica entre todos, fruto daquelas iniciativas pastorais patéticas de dizer: “agora abrace 10 irmãos ao seu redor e diga a ele que você o ama”. Nada mais constrangedor pois, após vencer sua vergonha tinha que fazer o mesmo em relação aos irmãos que também se sentiam encabulados em fazer tal demonstração de comunhão forçada.
Outra coisa que rolava em praticamente todas as denominações pelas quais passei era aquele momento de oração, quando o pastor nos incentivava a dar as mãos, fechando os corredores. Através do tato e de um pouco de discernimento, poucas vezes senti que quem estava dando a mão a mim estava “presente” àquele momento, obviamente tirando as pessoas mais íntimas a mim (leia-se minha mulher, familiares e amigos que, normalmente já eram amigos desde “fora”). Findadas as orações em conjunto, não foram poucas as vezes que tentei olhar nos olhos da pessoa ao meu lado e ela já estava entretida com outras pessoas mais próximas a elas.
Nestes 18 anos no Caminho, tive também a experiência de tentar congregar em igrejas menores, daquelas de algumas dúzias de cadeiras, púlpito próximo, respiração do outro irmão no cangote, estas coisas. Acreditei que num ambiente menor haveria uma maior comunhão. Estas igrejas menores (não em importância mas literalmente menores em tamanho) realmente aproximavam as pessoas mas, infelizmente, de uma maneira não muito saudável. Vi muita fofoca, muita intriga, muita demonstração de espiritualidade artificial, regada de uma pseudo-unção e aliada a necessidade de ser visto tanto pela liderança quanto pelos outros irmãos.
Havia uma sensação claustrofóbica de controle bem maior do que nos mega-templos. Não havia possibilidade de destoar nem um pouco dos demais. Ali você era constantemente monitorado, igual somos na classe em dias de prova, concurso ou vestibular. A tentativa de controle e manipulação que sofria nestas igrejas fez com que eu me decepcionasse e sentisse saudade dos grandes templos, onde ao menos eu poderia “soltar um pum” sem que ninguém soubesse a origem, onde eu poderia ser eu mesmo e – ao final do culto – não houvesse invasão de minha privacidade...
Paralelo a isso tudo porém, sempre existiu um outro tipo de congregação virtual que nem me dava conta de fazer parte. Esta acontecia e acontece constantemente no meu dia-a-dia e eu fiquei por muito tempo sem notar que se tratava de algo muito mais profundo do que ter uma coleção de carteirinhas de membro de diversas denominações. Esta congregação acontecia quando eu menos esperava. A grande maioria de nossas reuniões era agendada após alguns telefonemas do tipo:
“E aí Sujo, beleza? Vamos tacar fogo num boi aqui em casa? Traz a breja que eu já comprei carne. Não se esquece de trazer o Feio e aquele CD da banda tal...!”
Ou então:
“E ai Zola, firmeza? Comprei duas garrafas de um chileninho muito bom. Trás uns queijos aí e chama o resto da galera!”
Ao chegarem, todos se reuniam alegremente ao redor da churrasqueira ou, simplesmente, espalhados na sala, sentados no sofá ou no chão, tomando posse do aparelho de som e mostrando as novas descobertas feitas em algum sebo, tomando cerveja ou vinho, comendo e conversando animadamente sobre assuntos corriqueiros. Em um determinado momento, todos, sem exceção, estavam profundamente felizes de estarem juntos, compartilhando a vida e em verdadeira comunhão.
O mais interessante é que nem todos os presentes eram cristãos. Na grande maioria das vezes, nossas conversas eram sobre banalidades até o momento que o amor existente entre nós transformava o ambiente e, como conseqüência, orávamos, líamos a Palavra, profetizávamos, chorávamos e nos consolávamos sem, entretanto, nos dar conta que estávamos exercendo o verdadeiro papel de CORPO DE CRISTO aqui na terra.
Não era no templo. Não era seguindo uma liturgia enfadonha. Algumas vezes não dava em nada. O que havia ali eram apenas o amor comum e o prazer de compartilhar o vinho, o churrasco, a cerveja, o queijo, a pizza, o rock and roll, algumas vezes o sorvete e nunca o refrigerante, proibido em nossas reuniões (as meninas diziam que dá celulite). Saíamos (quem saía) restaurados, cheios da presença de Deus.
Sei muito bem que alguns que estão lendo este breve testemunho dirão que na verdade saíamos de cara cheia, empanturrados e tendo alucinações. Não ligo não. Falaram coisas parecidas e até piores ao Senhor Jesus, como vemos em Mateus 11.19:
“Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras.”
Isso posto, faço uma pergunta: O que significa deixar de congregar? Estar de corpo presente em um templo sem, entretanto, estar em comunhão com os demais (que também não estão em comunhão com você) ou, no “dois ou mais reunidos em meu Nome” (Mt 18.20), em casa, num barzinho, num quiosque à beira da praia ou até mesmo num show de rock com seu amigo?
Nós somos o Corpo de Cristo. Nós somos os embaixadores do Reino de Deus aqui na terra. Nós somos o sal da terra e a luz do mundo, até mesmo nos locais considerados impuros para os religiosos. Como bem diz o ditado: “Você entrar em uma garagem não te transforma em um carro, assim como você entrar numa igreja não te transforma em um cristão”. E vice-versa...
Em tempo: Já fazem 3 meses que não vou no templo e ninguém me ligou para saber se estou vivo, se estou bem, ao menos "desviado". Prefiro meus amigos...
terça-feira, 3 de maio de 2011
Congregar onde? Com quem? Como assim?
11 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
Olá, Pastor Jotacê. :)
ResponderExcluirCada vez mais eu vejo que a experiência incrível nessa tua caminhada, te concedeu lucidez e consciência do que seja se congregar dentro e fora das paredes eclesiásticas.
Ler textos assim (testemunhos reais do cotidiano) muito me alegra, embora saiba que ainda temos muito o que viver, aprender, experimentar e principalmente colocar em prática para que tenhamos uma vida saudável, uma mente saudável e, consequentemente, passarmos tal experiência perfeitamente saudável para outros. Como diria Jesus: "ora, se sabeis essas coisas, bem aventurados sois se as praticardes".
Ah!... E sempre que se fala em congregar ao redor de uma mesa, como você cita tão bem, me lembro da "Festa de Babete". Aquilo é Evangelho PURO!
Pois é...
Sonho com o dia em que muitos irmãozinhos e irmãzinhas (de boa fé, mas completamente equivocados e embalados pelo paganismo) entendam o significado de "casa de Deus, casa de oração, templo do Senhor", e parem dessa pretensão tola de querer anular o Sacrifício Perfeito.
Alguns, com a vista mais embaçada pelo igrejismo acirrado, acham que essa dor vem de alguma vontade em querer "doutrinar" os religiosos mais inflexíveis quando na verdade é apenas o querer bem...
Obrigada por compartilhar mais essa.
O&A
R.
Pastor,
ResponderExcluirQue bela descrição de comunhão, você fez!!! O que tenho vivido é exatamente por aí. E acontece uma coisa diferente do que você disse acontecer em igrejas 'pequenas': a privacidade não é invadida! Ela é compartilhada, quando as pessoas querem compartilhá-la!
Só sinto muito ter perdido a 'festa' que a bispa falou. Acho que eu estava doente, naquele dia!!! rssssssssss
Forte abraço, meu querido amigo, e continue na Paz!
Oh bispa!
ResponderExcluiré o que falei para o René no comentário do texto anterior a este: As paredes ruiram faz tempo. É que vez ou outra eu confesso que gosto de ir à igreja. Desta vez está sendo engraçado não ir pois, como disse no texto, a igrje que estava indo é considerada "tão amorosa" que estou achando muito estranho ninguém ter nos procurado.
Muitos tem nosso telefone, nossos emails e aparentemente ninguém notou que faz uma cara que não aparecemos...
Beijo!
JC
Exatamente René!
ResponderExcluirEstamos juntos porque realmente nos amamos e não na tentativa de promover encontros para ver se - de repente - "pinta um clima" e passemos a nos considerar amigos, irmãos...
René,
ResponderExcluirDá uma espiada aqui:
http://reginafarias.blogspot.com/search?q=A+festa+de+Babete
abs (que não é freio :P)
R.
Vcs dois são tão irmãos que até a foto (aí do ladinho direito do comentário) de um é muito parecida com a do outro.
ResponderExcluirA diferença é que um tá de peruca e o outro não.
he he
Não é peruca!!!! (é implante, mas abafa!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPaz,
ResponderExcluirJC,eis-me aqui outra vez,amei seu testemunho,em muitas partes dele me encontrei,num passado as vezes longe,as vezes perto,pois q lembrei de algumas passagens na minha viagem pela vida religiosa de outrora...rsrsrsr
Eu detestava ter que dar as mãos durante o culto,não era pessoal,aliás nem conhecia a pessoas ao lado,era pela ordem dada,e imediatamente cumprida por todos os "robozinhos",(será que pensam que as pessoas não tem vontade própria???)(a maioria não tem...rsrsrr)como vc disse estar no local não significa que se está em comunhão...
Quanto ao congregar,todos os que são dEle,ja congregam ...no corpo,são membros que obedecem uma única cabeça,e esse corpo é invisível e universal,não depende de um lugar,andamos por fé e não por vista....por exemplo pela internet como vc citou podemos congregar com muito mais amor e experiência do que dentro de um templo de pedras frias,afinal o único templo em vigência em tempos de graça é o nosso corpo onde habita o Espírito....isso não quer dizer que não devemos nos reunir com gente de carne e osso,é só um exemplo de que o congregar e a comunhão se da no espírito, não na material reunião...
Há momentos que uma reunião de amigos e familiares é um verdadeiro culto,como vc bem descreve,sabemos que é assim,porque o amor é que dirige as vidas dos filhos do Altíssimo,e o amor não está na multidão....o caminho do amor é apertado...cabe pouca gente..rsrsrs
E pra não esquecer o que foi dito...
Atos 17;24-25
O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;
Congregamos no corpo dEle,somos o templo dEle e sendo nós o templo...onde estiver dois ou mais(templos)Ele estará presente.
Paz JC,abraços no amor que uni!!
reveja seus conceitos meu amado irmão,a base para uma comunhão com nossos irmãos é viver a palavra,enquanto que o viver a vida(humanamente falando)até os impios o fazem na carne,porem Deus nos chamou para fazermos a diferença.Se tivermos uma maior comunhão com Deus e a sua palavra com certeza despertaremos (influenciaremos)pessoas a viverem uma comunhão verdadeira em cristo.A guerra espiritual num mundo maligno como o nosso,alem da pressão da carne que nos leva a ver quase tudo sob o olhar carnal nos faz sentir vontade de nos isolar,porém deixo um singelo conselho.Viva inserido nesta igreja invisivel fazendo parte do corpo de Cristo ,porém nao deixe de viver em familia com a tua igreja(comunidade)pois estes problemas só cessarão quando a igreja estiver em outra dimensão(céu) na eternidade.
ResponderExcluirPrezado "anônimo"...
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de agradecer por sua visita a meu blog e ao seu comentário. Entretanto, vejo que alguém com sua sensibilidade e conteúdo poderia muito bem se identificar; afinal de contas, aqui não é o Sinédrio...
Em relação ao seu comentário, gostaria de dizer que há uma ligeira confusão de sua parte quanto ao que eu disse versus sua interpretação:
Em nenhum momento disse que deixei de congregar: Segundo Jesus, "onde dois ou mais estiverem reunidos em Meu Nome, ali estarei", e isso ocorre MUITO MAIS entre verdadeiros irmãos em Cristo que, não obrigatoriamente (na verdade, muito pelo contrário) estão dentro de 4 paredes e um teto, tendo à frente um sacerdote (modelo inspirado no Judaísmo e não na Igreja de Jesus), do que entre verdadeiros irmãos em Cristo, como estamos neste momento sendo, mesmo que virtualmente.
Quandos na denominação que você congrega você conhece pelo nome, compartilha sua vida e suas necessidades pessoais, materiais e espirituais?
É disso que estou falando. Em meus 18 anos de Evangelho, estive muito tempo engessado pela religião instituída, mesmo que com um verniz de cristianismo.
Apenas quero dizer que faço parte do Corpo de Cristo, muito mais do que muitos (e não me refiro à você) que estão enfiados dentro da denominação.
Poderia me estender mais, mas não creio ser o caso.
Com amor em Cristo, que nos une (por mais que talvez você não creia)
JC