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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O jovem mendigo, ou a parábola do filho pródigo...


Lembro-me do dia 28 de Agosto de 1993 como se fosse hoje: O dia que me converti. No mesmo dia já ganhei uma pessoa pra Jesus. Um excelente aproveitamento né? Mas não estou falando isso pra me gabar. Muito pelo contrário!

Este ímpeto de ganhar almas, de ser útil, de implantar o Reino de Deus aqui na Terra com o passar dos anos foi vergonhosamente substituído por um "comodismo incômodo"...

Mas antes de cair na mesmice, aconteceram muitas coisas loucas em minha caminhada com Cristo. E é uma delas que me faz escrever agora...

Tinha me desligado da Nossa Caixa e estava trabalhando com meu pai. Certo dia, por volta das 10 da manhã, estava eu voltando para casa. Aguardava o Jd. Maracá ou Jd. Caiçara na Av. Prestes Maia. Nisso, um rapaz se aproxima de mim e começa a conversar.

Ele deveria ter na época uns 25 anos. Estava um pouco sujo, o cabelo meio desgrenhado, mas nada em sua aparência denotava algum tipo de periculosidade. Chegou até mim e pediu licença. Começamos a conversar. Ele me pediu uns trocados para comprar alguma coisa pra comer.

Naquela época, andava mais duro que um coco. Olhei bem pra ele e senti algo se remexendo dentro de mim. Creio que o olhei com os olhos de Deus, o vi como ele era visto pelo Pai. Ao invés de apenas dar-lhe um trocado, perguntei à queima-roupa:

- O que você está fazendo na rua?

O cara desmontou. Começou a chorar. Sem me preocupar com os demais, o abracei, enquanto ele soluçava copiosamente em meu ombro.

- Você quer mesmo saber?
Disse ele.

- Claro, me conte...

E ele contou...

Contou que era de uma família de boa condição social em Brasília. Tinha uma namorada que trabalhava na zona de meretrício e, para azar dos dois, ela engravidou. Ele ficou desesperado, pois sua família nunca aceitaria que ele tivesse uma namorada prostituta, muito menos que ela estivesse grávida dele.

Ao nascer a criança porém, sua namorada morreu. Para evitar maiores escândalos e também para fugir da situação, ele levantou todo o dinheiro que pôde junto a família sem explicar o motivo, deixou a maior parte com uma prostituta amiga de sua falecida namorada e que se responsabilizou de cuidar da criança e partiu de Brasília para São Paulo com apenas 300 reais no bolso.

Ao chegar no Terminal Rodoviário do Tietê foi assaltado. Levaram tudo o que ele tinha. Como teoricamente ele havia saído de casa com muito dinheiro, ele ficou com vergonha de revelar aos familiares tudo o que de fato havia acontecido.

Com isso foi viver na rua, andando com outros párias. Para aplacar a fome, passou a usar drogas e a beber muito. Estava sendo engolido pelo sistema e cada vez mais sem forças e perspectivas de dar uma virada na vida.

Isso tudo ele me contava aos prantos, enquanto caminhávamos abraçados, lado a lado. Então eu perguntei:

- Se eu conseguir o dinheiro para você comprar uma passagem de volta para Brasília você voltaria à casa de seus pais?


Ele não acreditou no que falei. Eu enfatizei que não estava brincando, era sério.

- Se eu voltaria? Claro que eu voltaria! A vida que estou levando na rua é uma vida miserável! Não estava mais dando valor a nada e só ansiava que tudo acabasse logo. Tava querendo me matar!


- Pois então vamos dar um jeito nisso. Quanto é uma passagem para Brasília?

- “X” reais, e tem um ônibus que sai do Tietê às 13 horas.

- Ok. Você está com fome?

- Sim, faz alguns dias que não como comida de verdade - disse ele.


Na época, era membro da Renascer em Cristo. Como estávamos no Centro, decidi ir com ele até o Copan, pois sabia que eles tinham um ministério voltado às crianças de rua, distribuindo comida e evangelizando a garotada.

Chegamos lá bem na hora. Eles estavam com um monte de marmitex prontos para serem distribuídos. Procurei o coordenador do projeto e expus a situação. Pedi a ele que ajudasse na compra da passagem e pedi uma refeição para ele.

O religioso hipócrita simplesmente disse NÃO. Eles não dariam nenhuma ajuda financeira para comprar a passagem, nem muito menos uma marmita para o pobre rapaz. Argumentou que se fosse ajudar todos os moradores de rua que apareciam lá pedindo algum tipo de ajuda teriam que acabar com o ministério de crianças.

Revoltado com sua postura, literalmente eu o amaldiçoei, profundamente decepcionado com a frieza de seu coração.

O rapaz, já humilhado com a situação disse para deixarmos para lá. Eu estava puto com o que tinha acontecido na Renascer e não iria desistir assim tão facilmente.

- Já sei quem pode nos ajudar. Vem comigo.

Fomos até a Galeria do Rock, na loja de um grande amigo meu, o Johnny (quem freqüenta a Galeria sabe qual é a loja dele...)

Chegando lá, falei com o Johnny tudo o que estava acontecendo, inclusive o que aconteceu na Renascer. Ele não titubeou. Pegou o valor da passagem no caixa, deu uns trocados a mais para pagar uma refeição.

Agradecemos e fomos de Metrô para o Tietê. Chegamos ao guichê da empresa de ônibus, compramos a passagem exatamente no valor e no horário que ele tinha me falando e fomos até a plataforma de embarque.

Em nossa despedida, ele chorava muito, não sabendo como agradecer. Eu também chorava muito. Ele disse que quando chegasse na casa do pai dele ele mandaria para mim uma pepita de ouro, pois tinham muitas. Eu falei pra ele que não tinha nada a ver, estava fazendo aquilo pois Deus estava me direcionando a fazer, não visando nenhum retorno.

Abri minha mochila, tirei minha Bíblia e perguntei se ele tinha uma. Ele disse que não. Dei a ele e disse que ali era a fonte de tudo o que ele precisaria para recomeçar sua história. Ele agradeceu, oramos juntos e ele embarcou.

Aparentemente fica meio difícil de saber o destino dele. Em meu coração entretanto, tenho a absoluta certeza que ele recomeçou sua vida, retornando para a casa de sua família, mesmo tendo desperdiçado tudo o que recebera como parte de sua herança.

Tremendo para mim ao analisar o que aconteceu é a semelhança dos fatos com a parábola do filho pródigo que se encontra em Lucas 15:11.32...

Post Scriptum: Quanto ao Johnny, também conhecido como Magrão, ele é um irmão em Cristo muito amado. Foi um dos fundadores da Renascer em Cristo, juntamente com o casal Hernandes. As primeiras reuniões da então recém fundada igreja foram feitas em sua casa. Ele abandonou a igreja após ter seu casamento destruído por intrigas (diziam que ele não era muito espiritual, enquanto sua mulher estava totalmente envolvida – no pior sentido, fanatizada – no ministério). Como conseqüência, se separaram. Esta foi uma das razões que fizeram que o Johnny não pensasse duas vezes em ajudar o rapaz. Como dizem, ele é sal fora do saleiro...

7 comentários:

  1. Pastor,

    Vou evitar ser repetitiva, afinal você já tá careca de saber que penso igualzinho.

    Só vou dizer o óbvio desconcertante:

    Situações assim do cotidiano é que eu chamo de viver/praticar/pregar o Evangelho.

    O mais é invenção...

    Mas, como vc diz no início, a cilada é o comodismo, e advindo inclusive do igrejismo, ops, não vou me repetir :)

    Enfim, voltemos a essa "caminhada louca" que ajuda a salvar vidas.

    bj

    R.

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  2. Ah, e como eu disse no início do texto, não contei isso para me vangloriar, e sim como um tapa na minha própria cara, pois parece que com o passar do tempo dei uma "encruada"...

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  3. ...Pois parafraseando Paulo, se anuncio o Evangelho não faço mais do que a minha obrigação.

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  4. Bispa!

    Reescrevi alguns trechos, pois notei que esqueci de um ponto importantíssimo! A ex-namorada dele havia morrido assim que a criança nasceu!!!!

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  5. É impressionante como a família e a igreja conseguem chutar um ente querido como quem chuta um cão sarnento(o que seria outra crueldade) em nome de seus "costumes, princípios e valores morais". Legalismo acima da compaixão.

    A parte boa de histórias assim é o sal fora do saleiro...

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  6. Curto muito o que você escreve!!! DEUS te deu o dom das palavras mesmo!!!

    Gosto das suas "alfinetadas" porque tb acho um absurdo como as pesssoas podem falar tanto de amor e qnd tem uma oportunidade de por em prática esse amor, fogem da raia.

    Pregar para quem está bem vestido é mole, mas abraçar mendigos é para quem está verdadeiramente em Cristo.

    Irmão, cada dia mais DEUS tem me mostrado que não posso ficar parada, vejo meus amigos não cristãos cada dia se perdendo mais, vejo a nossa juventude perdida, sem saber que rumo tomar. JESUS sabe que nossos testemunhos vão edificar muita gente ainda, amém!!! Se vc é benção na vida dos que te lêem e estão distantes fisicamente, imagino o que você não faz por aqueles que estão ao seu redor!!!! Que DEUS renove suas forças e que você continue a ser sal fora do saleiro, como bem disse a irmã aqui em cima.

    Bjs na sua esposa!!!
    Dalvinha

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...