Uma certa leveza invade meu espírito. Meu espírito de porco, que domingo agora dará uma sapecada na urubuzada do Flamengo dentro do chiqueirão, o Templo Maior da suinada paulistana. Algo como o conforto proporcionado por três comprimidos de Neosaldina durante uma crise de enxaqueca, que graças a Deus não tenho há meses.
Sinto-me nas nuvens. É uma estranha paz que me entorpece, me inebria e faz meu corpo flutuar. Aquela onda que vem sem quebrar sobre você e te joga para cima. Morna e salgada, as águas azuis da praia que Deus permite que eu use me abraça com carinho, aquele abraço apertado, na medida certa, de quem tem a pegada, que encaixa e te dá prazer.
De onde vem esta sensação? Será que é por ser sexta-feira? Será que é pelo fato de ter trabalhado a semana inteira de sandálias sem que ninguém me importunasse no escritório, após ter esmagado os dedos dos pés num acidente ridículo que sofri domingo passado? Nem estas dores em meus dedos do pé esquerdo me incomodam. Sobre isso, o que mais me incomodou na verdade foi o ridículo de não ter calculado corretamente como o móvel que eu estava fazendo reparos iria tombar. Doeu mais o orgulho do carpinteiro aqui, pela asnice.
O que é isso? Será que é pelo fato de terem dado alta da UTI à minha mãe, que amargou 4 longos meses entubada e agora vai para uma enfermaria? Dizem que quem passou por isso no Hospital passou por uma prova de fogo, pois a semana imediatamente posterior à alta é decisiva: Ou pega no tranco ou vai pra glória.
Pode ser também pelo fato de ver que meu espírito está livre como nunca foi antes. Posso decidir meu presente e planejar meu futuro sem ser escravo do passado, que foi bom, muito bom, mas acabou. Vida nova, leve, livre. Posso voar, fluir, existir, desistir. Posso fazer o que quiser. E o que me alegra é que isso é bom demais. Cada vez mais quero menos. O consumismo e a propaganda não me escravizam como antes. O poder desta sociedade não me intimida mais. Passo ao largo com minha caravana, enquanto os cães ladram em tom ameaçador. Entre duas opções, a de satizfazer meu querer e sofrer para conseguir ou querer menos e gozar o que tenho à disposição, optei pelo prazer de usar o que está em minhas mãos sem que a posse seja necessária.
Meu inimigo perde a força a cada dia. Coloco-o em foco e vejo seu real tamanho. Ele não passa de um pigmeu sob a luz de um holofote. Não há mais a escravidão infantil, que me obrigava fazer xixi na cama por medo de colocar os pés no chão e o bichão puxar meu pé. Não há mais loira morta com chumaços de algodão no nariz dentro do banheiro da escola, não há mais o homem do saco (este aliás nunca me assustou). Hoje faço carinho no leão e nado com os tubarões. Eles não entendem de onde vem a coragem e isso os paraliza. Invertemos os papéis.
Parafraseando Keith Moon, minha vida hoje voa leve como um Zeppelin mas mantém o peso do chumbo, num equilíbrio perfeito. Good and bad times andam de mãos dadas. Perdi o medo do cachorro preto. Subo a escadaria para o céu.
Prossigo em frente sem que eu possa ver com clareza o que há além do horizonte. Tenho apenas o sol, a lua e as estrelas como guias. Quando o céu está nublado aciono o piloto automático. Meus pés andam com intrepidez, como se fossem guiados por quem conhece todos os caminhos. Me sinto no banco de trás, enquanto o grande chofer dirige em meio às estradas desconhecidas. Como poderia eu saber o caminho certo a escolher? Deixa ele dirigir! O carro é dele, as estradas são dele, as paradas e pousadas são dele, minha vida enfim, é dele!
Relaxo e gozo. Não tentarei continuar explicando o que estou sentindo. É bom e ponto. Não vejo a hora de chegar em casa hoje, ir à praia a noite com minha mulher, abrir um bom chileno e brindar a vida!
A batalha dos Deuses – O jogo
Há 4 semanas
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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...