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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O burro e a cenoura


Vivemos querendo adiantar o tempo, ansiando que segundos se transformem em minutos, minutos em horas, horas em dias, dias em semanas, semanas em meses, meses em anos, sempre achando que agora as coisas não vão bem, mas que no futuro tudo será muito melhor.

Esperamos os segundos que faltam para acabar a prorrogação da partida de futebol quando nosso time está ganhando. E os segundos se transformam em minutos, e a partida acaba. Que felicidade.

Os minutos tardam em passar, e queremos que chegue logo a hora do almoço ou de ir embora do trabalho. Minutos eternos, contados no relógio. Mas os minutos se transformam em horas e estas horas passam. Chega a hora de ir embora do trabalho e ficamos felizes com isso.

As horas se arrastam no relógio, e os dias são longos. Não vemos a hora de chegar o fim de semana para descansarmos um pouco. Segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Até que enfim. Sobrou-nos dois dias para recarregarmos a bateria, fazemos festas e churrascos ou apenas limpamos a casa, lavamos roupa e descansamos um pouco assistindo Fantástico domingo à noite. Que maravilha.

Puxamos o saldo de nossa conta e vemos quanto de dinheiro temos. E nunca é o suficiente. Os dias que faltam até o próximo pagamento se arrastam lentamente, fazendo com que a ansiedade que ficamos em quitar nossas dívidas nos deixe com dores nas costas, dor de cabeça e insônia. Fazemos de tudo para esticar o salário, mas este vaza entre os dedos como água. Resistimos heroicamente até que chegamos no dia do pagamento. Mais um mês que se foi, graças a Deus.

Mas temos o conforto de que daqui mais alguns meses tiraremos um mês inteiro de férias. E torcemos para que o ano passe rápido. Apesar de toda luta diária, o ano passa e chegamos ao bendito mês. Descansamos alguns dias mas o dinheiro acaba. Ficamos ansiosos esperando que as férias terminem logo, pois fazer nada sem dinheiro não dá.

Mesmo assim não perdemos a esperança de dias melhores. Lembramos que temos trabalhado anos a fio, e o tempo que falta para nos aposentar está chegando. Assim não dependeremos mais de um mísero mês de férias para descansar os ossos. Chegará o dia que daremos entrada em nosso pedido de aposentadoria. E este glorioso dia chega. Papelada e burocracia cumprida, pronto. O troféu por anos de trabalho a fio chega. Ficamos em casa, inventamos uma coisinha aqui e outra ali para fazer, até que não vemos mais nada pela frente.

Perdemos a disposição, ficamos cada vez mais doentes, passamos a freqüentar os estaleiros com uma freqüência cada vez maior. A virilidade dos primórdios se foi. O prazer pela vida também. O que conseguimos juntar? Valeu a pena o esforço? Agimos como o capitão do barco a vapor que participava de uma competição. Forçamos os motores ao máximo para chegarmos à frente de todos, lançando carvão nas fornalhas. O objetivo vai sendo alcançado até que acaba o carvão. Mas o importante é vencer a corrida e começamos a jogar toda peça de madeira do barco nas fornalhas para alimentar o fogo que nos impulsiona para frente. Cadeiras, mastros, lemes, remos, botes, tudo vai pro fogo.

Chegamos ao fim da corrida na frente de todos. Qual foi o prêmio? Chegar ao fim. O que sobrou do barco? Nada! De que adiantou queimar tudo de bom que tínhamos em mãos, nosso presente precioso, em troca de um oásis que na verdade não passava de uma miragem?

Ouvimos muitos louvores e pregadores da prosperidade dizer que o melhor de Deus está por vir. Com isso jogamos nossas vidas fora. Correndo atrás da cenoura presa em uma vara em nossa frente, mas nunca a alcançamos, apesar do esforço.

Que Deus nos dê sabedoria para valorizar cada segundo vivido, ouvindo, respirando, falando, comendo, trabalhando, rindo, chorando, brincando. Isso é o que vamos levar da vida.

2 comentários:

  1. Estou seguindo o teu blog a partir de agora. Gostei da apresentação. Temos algo em comum, gostamos de ler. E gostamos de Dostoyevski, o que é melhor ainda. Faça uma visita ao meu blog (ricardomamedes.blogspot.com) e será muitíssimo bem-vindo. Amplexos.

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  2. Obrigado pela visita Ricardo!

    Dostoyevsky é tudo de bom! Fico impressionado com a habilidade que ele tem de fazer você entrar na mente de seus personagens.

    quanto ao meu blog amigo, 'eu sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior...' mas tenho me divertido muito com o blog, serve de válvula de escape...

    Vou te acompanhar também amigo, vamos trocando figurinhas neste meio tempo!

    Um grande abraço!

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Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...