Costumo ser muito organizado. Deixo minhas chaves junto ao meu celular e relógio, para que na hora que vou sair de casa não me esqueça de nenhum deles. Vez ou outra escrevo bilhetinhos para mim mesmo para não deixar de fazer algo importante que lembrei fora de hora. Até mesmo este texto que estou escrevendo é fruto de um bilhetinho que escrevi sábado à tarde, após muitas lágrimas com minha mulher, ao lembrarmos que algo que não queríamos esquecer não dependia mais de nossa vontade ou organização.
Conversávamos sobre nossas mães que já se foram. A minha partiu em Novembro último, após 5 longos meses em coma. A de minha mulher partiu antes de eu conhecê-la. Descansou antes de ver um de seus sonhos se concretizarem: Ver a filha trabalhando na área de enfermagem, em um bom hospital.
Sentei-me ao lado dela em silêncio, enquanto ela chorava. Não havia nada o que falar, apenas sofrer junto. Como disse em um outro post meses atrás, a meu ver não há nada pior quando você está chorando do que uma pessoa cheia de boas intenções parar ao seu lado e pedir para você não chorar, pois aquilo não era nada, já passou, sei lá...
Ela chorou, chorou até cansar. Dentro de mim a revolta contra a morte imunda só fazia crescer. Quando ela parou de chorar e começou a falar eu fiquei ouvindo, ainda em silêncio, mas me corroendo por dentro ao pensar na amputação emocional gerada pela morte.
Morte. Todos nós a encaramos por vários ângulos, tendo como base o grau de relacionamento com aquele que se foi, a gravidade do fato ou a quantidade dos que se foram. Algo como um homicídio lido em um jornal qualquer é estatística. Um avião que cai matando centenas gera comoção, até o próximo acidente.
Quando porém a morte nos toca com seus dedos frios, temos a real noção de quanto ela é perniciosa, asquerosa, imunda, imparcial, implacável. Se é que é possível falar isso, conviver com a morte como minha família foi obrigada a fazer por cinco longos meses foi algo como ter tido dentro de sua casa um seqüestrador, faca no peito da pessoa que você ama, inflexível na negociação.
O desgaste emocional te debilita; você fica impotente, apenas esperando o momento que ela aplicará seu golpe final. Por mais que se ore, por mais que se façam campanhas, por mais santos amigos e irmãos que você tem, uma hora será a última hora. Ela virá. Caso não sejamos arrebatados, todos passarão pelo longo e sombrio vale.
Quantos sonhos não serão vividos? Quantas alegrias póstumas não serão compartilhadas? Quantas saudades serão choradas? Enquanto estivermos aqui, sentiremos a dor da amputação constantemente, por mais que aparentemente a ferida tenha cicatrizado e tenhamos feito o melhor implante com o maior especialista do mundo.
Sei lá. Não tenho muito mais a escrever por enquanto. Apenas compartilho o texto que lembrei enquanto nós estávamos chorando:
“Todos estes morreram na fé, sem terem alcançado as promessas; mas tendo-as visto e saudado, de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.” – Hebreus 11:13
Compartilhei este texto com ela, sem ter a intenção de trazer um conforto superficial, apenas por ser a Palavra de Deus, dizendo que muitos outros passam por isso..
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Morte: Não te temo, mas como te odeio...
4 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
nos deixar chorar é a melhor coisa que um verdadeiro amigo pode fazer por nós... muito bom o texto, como sempre.. rs
ResponderExcluircom relação ao seu comentário, tb peço a DEUS um namorado com todas as características... que ele goste de missões, como eu, e que seja rubro-negro... kkkkkkkk to brincando, antigamente ser Flamengo era exigência, hoje só quero mesmo alguém comprometido com a obra de DEUS... =)
Continuo esperando e sei que DEUS tem alguém maravilhoso guardado pra mim... =)
bjss
Seu texto me emocionou, compartilho do seu ódio e sei pelo que vocês passam. Conforta-nos mais a certeza de um reencontro, mas não nos impede de chorar, acho que nem quero...
ResponderExcluirAhhhhhhh menina...
ResponderExcluirVou fazer a campanha dos 318 apóstolos consagrados com a rosa ungida no sal grosso do Mar Morto pra você deixar de gostar deste time véio, horroroso...
Como pode, você é tão legal, nem parece flamenguista?!?!?!?!?!
Brincadeira querida, que Deus te direcione sempre!
Eder, nem dá cara. De vez em quando você olha lá e tá o buraco, "impreenchivel".
ResponderExcluirNuma hora dessas a "religião" não ajuda, por mais palavras de conforto que tenhamos.
Apenas dói. E tem que deixar doer, como num tratamento de canal, sem anestesia.