“E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e comeram. E outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; mas, saindo o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou-se. E outra caiu entre espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram. Mas outra caiu em boa terra, e dava fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça." – Mateus 13.3-9
Apesar de nunca ter morado no campo, sempre tive contato com pequenas hortas que meu pai costuma plantar no fundo do quintal. Sem terra ele não sobreviveria. Como os antigos costumam dizer, ele tem “mão verde”: TUDO o que ele planta ele colhe, impressionante. Minha ex já era o oposto: Qualquer coisa verde que ela tentava manter viva, como um simples vaso de flores, não duravam mais que uma semana, um espetáculo! Chegava a brincar com ela, dizendo que não carpinaria mais o fundo do quintal de uma casa que morávamos e que se transformava em uma belezura de matagal de tempos em tempos: Bastaria ela pegar um regador e sair aguando os pobres matinhos...
Brincadeiras a parte vem o Janjão aqui, começar suas aventuras agrícolas após conseguir um bom espaço na varanda do apartamento que moramos. Assim que nos instalamos comprei um vaso retangular razoavelmente grande e enchi de terra, daquelas que vendem em saquinhos nas lojas especializadas. Saí a procura de sementes e a única que julguei ser possível de plantar naquele espaço foram sementes de rúcula, matinho que eu amo e coloco em praticamente tudo, de saladas a pizzas.
Diariamente estava eu lá, aguando o vaso e olhando constantemente, esperando os brotinhos aparecerem. Que alegria foi a minha quando os primeiros pontinhos verdes começaram a borbulhar da terra! Fiquei todo pimpão, crendo que herdara a bendita mão verde de meu pai. Todo dia aguava o vasinho, vendo os galhinhos pegarem força e crescerem, até uma época que fiquei muito ocupado e chegava em casa só no pó. O prazer de manter minha hortinha se tornou uma pequena obrigação e passei a regar as plantas com certo descaso, quase que conversando com elas e dizendo: “Toma água aí seus matinhos chatos!”
O que eu já tinha ouvido falar mas não acreditava ser verdade (talvez não seja mas tem coisa que os antigos falam que é melhor não duvidar) é que as plantas aparentemente absorvem as energias de quem está cuidando delas. Sendo assim, elas começaram a ficar tristes e algumas folhas começaram a murchar. Ciente de meu pecado, passei a cuidar mais delas, só que aparentemente o estrago já estava feito. Elas ficaram de mal de mim e se recusaram a continuar a crescer.
Irritado, comecei então a deixar elas de castigo: Em pleno verão do Rio de Janeiro, que este ano firmou por mais de um mês acima dos 37 graus, eu as deixava no sol, não levando em conta sua fragilidade e crendo que elas já saberiam cuidar de si próprias. Conseqüentemente, todas elas murcharam, apesar de algumas continuarem verdes.
Arrependido de minha maldade agrícola, voltei a recolhê-las na sombra e dobrei a quantidade de água. Para minha surpresa, elas perceberam que eu tinha voltado a ser um bom garoto e – comovidas com meu profundo arrependimento – passaram a tentar se reerguer. E assim foi, todas ficaram eretas, apesar de não crescerem mais.
Como elas não cresciam mais nem um milímetro e aquela situação se arrastava por semanas, decidi que havia chegado a hora delas. Durante a noite, enquanto elas dormiam, colhi todos os pequenos ramos de rúcula, lancei fora grande parte das folhas secas e aproveitei um pequeno punhado, suficiente apenas para incrementar um prato que fiz naquela noite.
Devo reconhecer: Elas bem se esforçaram. Estavam deliciosas e fizeram o máximo possível para me satisfazer. O problema foi que nesta relação “sementes x JC” eu acabei fazendo menos do que podia. Me dediquei pouco... Alguém com mais espaço e tempo poderia ter comprado aquele saquinho de sementes e elas poderiam ter desenvolvido seu pleno potencial mas eu acabei atravessando seu caminho.
Acho que aprendi a lição. Sábado passado, conforme falei no post anterior, comprei sementes de coentro e alfavaca (um parente do manjericão). “Arei” a terra (grande terra), aumentei a distância entre as pequenas covas e plantei metade em um lado, metade no outro. Reguei bastante e agora voltei a sentir prazer na minha pequena hortinha. Todo dia à noite chego e troco uma idéia com elas, antes mesmo delas colocarem suas folhinhas de fora. Fico olhando e pensando: "Olha lá, daqui a pouco vai nascer!", igual fazemos quando estamos esperando o leite ferver...
Aprendi também outra lição prática: Se até numa relação entre um homem e um vegetal o cuidado, o respeito e o carinho são os responsáveis pelo sucesso ou fracasso da colheita, imagine em nossas relações com o próximo?
Quantas vezes nos irritamos com quem se relaciona conosco e devolvemos a demanda da maneira que ela veio até nós? Como está escrito, “um abismo chama outro abismo” (Salmo 42.7a). Numa espiral descendente, cada lado procura revidar de forma que, quando nos damos conta, um está de um lado se achando totalmente certo, cheio de todos os motivos do mundo para não ter cuidado da relação como ela deveria ter sido, enquanto o outro lado está praticamente morto, destruído com nosso descaso. No caso das plantas, até tem como tentar replantar. Já nos relacionamentos...
Parece brincadeira mas Deus falou muito comigo através desta situação simples. Quem entendeu entendeu, quem não entendeu...
terça-feira, 15 de março de 2011
João e o pé de feijão, digo, rúcula...
3 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
Pazz!!
ResponderExcluirGostaria de dizer que me comovi com a história ,e que assim como você ja tive experiências com plantas que foram lições para a vida,de fato tudo que não cuidamos se perde...e quando o assunto é gente ainda pior,gente não da pra replantar,ou se preserva, ou paga o preço,e um bom relacionamento com o próximo é termômetro de amor...Vamos regar sempre com água fresca as vidas que estão a nossa volta para que cresçam e frutifiquem relacionamentos fundamentados em amor sincero,quem ama cuida,sejam amigos,familiares, cônjuges,e até estranhos ,nosso próximo pode ser o mais distante aparentemente...
E não posso deixar de perguntar....
Como exatamente devo entender ,,,todo dia á noite...rsrsrsr,seria um novo dia escuro,ou uma nova noite ensolarada??
Bjs e Paz!!
Ah dona Ritinha, tá de "paiaçada" comigo né?
ResponderExcluirTodo dia (24 horas), à noite (na hora que eu chego do trabalho)... rsrsrs
Beijos
JC
Pois é, meu irmãozinho.
ResponderExcluirEsse regar é algo constante...
E, como você diz em sua analogia com as plantinhas, o segredo da relação está no trato. No cuidado, no zelo, no carinho, no respeito... Tudo isso é exercício de aprendizagem e que tem a ver com vida prática.
Gostei da forma poética como você coloca acerca das inúmeras formas como Deus nos fala...
Mas bora logo com esse prato de salada que a fome apertou. Inclusive ´ce tá devendo uma demonstração dessa autopropaganda constante de dotes culinários. :)
O&A
R.