Refletindo sobre estes últimos meses, tenho notado que muito de minha angústia e aflição se deu pelo fato de estar tentando me enquadrar em uma moldura pequena e quadradinha demais para mim, sofrendo por isso esta sensação de claustrofobia praticamente insuportável.
Neste período, me vi profundamente cansado e irritado sem um motivo aparente. Achei que era por estar atravessando problemas familiares, profissionais, logísticos, relacionais. Por esta razão tentei equacionar tudo novamente, cavando e procurando encontrar de onde vinha minha irritação e angústia, sem, entretanto, descobrir o motivo.
So que ao fazer isso, não encontrei respostas às minhas inquietações. Pelo contrário! Ao mexer com o que estava quieto, acabei gerando novas fontes de desgastes relacionais e insatisfações pessoais, numa – como disse ontem – espiral descendente, somente aumentando o rombo dos tecidos velhos com remendos novos.
Ontem a noite, após ouvir uma ministração de um pastor que gosto muito (apesar de vez ou outra ele falar algumas coisas que não concordo 100%, Sóstenes Mendes do Projeto Adoradores), comecei a ter um vislumbre do que estava (está) me incomodando tanto: Sou um pentecostal tentando me enquadrar numa denominação tradicional não pentecostal.
Esta “descoberta” jogou um canhão de luz no meu espírito que se encontrava aperreado, tateando no escuro, tentando encontrar respostas...
Para entender melhor, acho bom resumir meus primeiros passos.
Me converti em uma igreja neopenteco$tal muito conhecida. Decepcionei-me rapidamente da direção daquele ministério e passei a congregar numa igreja apo$tólica. Lá também não virava, apesar de ter passado bons momentos com Deus, tendo sido batizado no Espírito Santo. Cheguei a peitar o santo apó$tolo pessoalmente, falando coisas que o Senhor havia colocado em meu coração para entregar à sua santidade (vida de profeta não é fácil...).
Nesta busca, rodei inúmeras denominações, querendo por que querendo encontrar uma que eu me sentisse em paz, feliz e satisfeito por estar lá, mas sempre tendo como o fiel da balança minha relação vertical com Deus, sua Palavra e a minha mente que dia após dia era trabalhada pelo Espírito Santo para cruzar a visão horizontal dos fatos com aquilo que Ele testificava em meu espírito.
Costumava orar a Deus pedindo para que Ele me colocasse na “igreja certa” (para mim), pois nunca achei justo de minha parte continuar congregando em uma denominação que minha visão de Reino era contrária. Temia pelos outros irmãos, que poderiam se contaminar com esta minha insatisfação, não queria ser pedra de tropeço. Tem igreja para todo tipo de crente e eu não podia cuspir no prato daqueles que se alimentavam nelas. Em resposta às minhas orações ouvia constantemente em meu espírito as palavras de Jesus:
“As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.” – Mateus 11:20b.
Pensava comigo que eu estava ficando louco, muito chato, talvez até me desviando dos caminhos do Senhor por ser assim tão rebelde. O problema era que eu achava isso por tentar me enquadrar de todas as maneiras na forma que prepara os cristãos evangélicos. Lógico que isso não funcionava.
Vários anos depois, voltando às últimas semanas que me referi no início deste post, lembrei-me que havia mais de um mês que estava evitando ir à igreja que congrego atualmente, mas não sabia exatamente o porquê.
Cheguei a falar para as pessoas próximas a mim que gostaria de visitar outras congregações mas não fui bem entendido na época, até pelo fato d’eu não saber explicar a razão de minha insatisfação. Ontem porém, tudo ficou claro: Na atual igreja que congrego, sempre que eu chego ao culto um ou outro pastor me cerca e pede para eu participar de algum grupo de irmãos para aumentar minha comunhão com a igreja. Grupos com nomes tipo “Conhecendo Deus”, “A Sós Com Deus”, “Voltando aos Caminhos do Senhor”...
Por querer ser agradável e não deixar os irmãos tristes, acabava aceitando o convite mas, logo em seguida, ficava duas ou três semanas sem dar as caras na igreja. Pensava comigo que eu não estava querendo conhecer a Deus, com quem eu já me relaciono a quase 20 anos. A sós com Deus juntamente com outros irmãos é uma contradição em termos e voltar aos caminhos do Senhor só se eu tivesse desviado deles.
Além disso, como falei antes, sou pentecostal. Prezo ao extremo o conhecimento intelectual, inclusive das Escrituras, mas não é só isso o que importa. Para mim uma relação com o Senhor tem como condição “sine qua non” TAMBÉM o lado experimental, vivencial do cristianismo. Este não se limita SÓ às experiências intelectuais, assim como não se limita SÓ às experiências emocionais, pentecostais. É UM E OUTRO e não um ou outro ou, talvez para alguns, o estar plantado no meio destas opções.
Minha fé é completa, procuro ter uma visão global do Reino de Deus aqui na terra e não acredito existir vida cristã genuína sem um profundo mergulho nas Escrituras aliado à experiências pessoais com o sobrenatural de Deus. Um ou outro não, tem que ser um e outro.
De volta à estrada, pois o Caminho é longo...
quinta-feira, 17 de março de 2011
Não é um ou outro: É UM E OUTRO!
2 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
JC,
ResponderExcluirHoje estou lendo seus textos que ficaram para trás, quando fiquei sem internet por duas semanas. Não, não vou comentar todos eles. Mas fiquei surpreso, confesso, ao abrir este texto e não ver nele comentários. Surpreso, digo, porque essa questão que você descreve aqui, do "incômodo" que se sente em igrejas, é muito mais comum do que parece.
Creio que todas as pessoas passam por isto, porque entendo que isso seja provocado pelo próprio Espírito de Deus. Claro, muitas pessoas se estabilizam em algum lugar, por preferirem ouvir a voz do homem, do que a voz do Espírito. Mas, por que Ele provoca esse 'incômodo'? Penso que, na verdade, esse incômodo que sentimos é por conta da tristeza que o Espírito de Cristo sente e manifesta ao nosso próprio espírito. É uma tristeza que Ele sente, exatamente por não encontrar nesses grupos a plenitude do relacionamento que deveria haver entre nós e Deus, esse relacionamento completo que você fala.
Nunca fui membro de igreja, mas sempre as visitei. E duas delas, uma em Floripa e outra aqui onde moro, até freqüentei mais seguidamente. Mas sempre inquieto, com aquela sensação do "tá faltando um bocado de coisa". Hoje, congrego com pessoas que não conseguiram, também, encontrar esse relacionamento pleno com o Senhor em instituições. São reuniões para adoração conjunta ao Senhor, onde se procura permitir a total condução da reunião pelo Espírito Santo. Não estou dizendo que seja pura manifestação sobrenatural. Mas que o Espírito conduz, trazendo Palavra, se for o caso, trazendo louvor, se for o caso, trazendo oração, se for o caso, e assim por diante. Não há uma 'liturgia' pré-estabelecida. A única coisa que não deixamos de fazer, em nenhuma reunião, é a oração final de agradecimento ao Senhor pela oportunidade de nos reunirmos ao Seu Nome e pela Sua ação junto a nós. O resto, que costuma fazer parte das liturgias humanas, só acontece se o Santo Espírito direcionar pra isto, ou aquilo.
Talvez seja esse tipo de liberdade que você esteja precisando. Liberdade, não sua, mas do Espírito!
Abração e Paz!
Ah René, que bom que você comentou algo neste texto e de maneira tão coesa, como sempre!
ResponderExcluirTem coisas que as vezes eu vivencio e escrevo a respeito que podem parecer loucura para alguns. Hoje mesmo relatei minha experiência com a teologia, mais especificamente com a hermenêutica, de forma que para alguns não vai cair bem.
Meu brother, como você viu neste post, desde a muitos anos eu também não me conformo com a igreja, mesmo visitando-as e - em algumas - tendo meu nome no rol de membros.
Mesmo estando "dentro" me considero peixe fora dágua. Estranho para alguns né? Para você eu sei que faz muito sentido.
Esta liberdade que você fala no final eu já vivo, pode ter certeza. Sabe aquela passagem de Paulo, quando ele diz "fiz-me de fraco para ganhar os fracos, fiz-me de..."? Pois é. Eu congrego no templo para não enfraquecer a fe de pessoas próximas a mim e que precisam ver o "bezerro de ouro". Já pra mim, isso é supérfluo.
Sinto saudades deste tipo de culto verdadeiro que você se refere e que já vivenciei por tanto tempo, paralelo ao culto dentro do templo.
Vamos conversar mais a respeito...
Um abraço!
JC