Cara, estou lendo Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski, aproveitando a boa fase de leitura que estou vivendo, pois tenho períodos de ‘entressafra’ os quais não consigo nem triscar em um livro por meses.
Sobre o autor, Dostoiévski consegue penetrar na alma do ser humano de maneira impressionante. Se ele estivesse vivo hoje e fosse escrever os roteiros do seriado americano ‘Criminal Minds’ os episódios seriam assustadoramente sinistros. Nunca li nenhum autor com tamanha capacidade de colocar no papel as dúvidas, questionamentos, dilemas... sei lá, fica difícil explicar...
Quando pego um livro de Dostoiévski me vejo ora em um personagem, ora em outro. Sinto medo. Tenho a impressão que uma jaula está sendo aberta e de lá sairão monstros a muito adormecidos. É uma sensação estranha, não de insegurança, mas de estupefação (ainda não é esta palavra, droga!) em reconhecer que dentro de mim existe uma natureza doentia. Doente na carne, que arrasta aos incautos a cometerem torpezas.
O que nos freia numa situação dessas são os valores tatuados a fogo em nossos corações. Pensando bem, creio que houve sim um escritor com tal capacidade de externar os dilemas humanos: Paulo (calma Ricardo, desta vez não é o "Coelho" e sim o apóstolo...), conforme podemos ver em sua carta aos Romanos:
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico...” – Romanos 7:14-19
Você tem coragem de assumir estas dúvidas que dilaceram a razão? Reconhece que dentro de você existe uma pessoa essencialmente má, ao mesmo tempo em que tem sua natureza sendo trabalhada dia após dia, queda após queda, tropeço após tropeço, através da influência do Espírito Santo? É paradoxal, vivemos uma crise dialética entre o que sabemos ser certo versus o que queremos fazer pela velha natureza.
Qual o ser humano que não vive isso? Como você se sente ao olhar no profundo de sua alma e ver que, se deixar sua natureza rolar solta, o barco navegará à deriva, sem leme para controlá-lo, sendo arrastado para penhascos ou abismos profundos e tenebrosos a seu bel prazer?
As duvidas crescem. Continuamos na agonia de Paulo: “...Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros...” – versos 20 a 23
Isso me faz pensar em outro ponto: Como um ser humano pode ver dentro de si este animal indomado e não se compadecer do seu próximo que, por fraqueza ou falta de referencial, deixa-se arrastar por seus instintos e comete algum ato condenável? Sofremos as mesmas dores, tememos os mesmos gigantes, caminhamos no mesmo fio da navalha. Por mais que cometam “pecadões” contra nós, também temos cometido nossos “pecadinhos”. Não podemos nos sentir justificados “contra” nossos “agressores”. Na verdade devemos nos apiedar daqueles que nos ofendem e glorificar a Deus por isso. A Graça cobre a nós todos.
Fico com Paulo para terminar (sem porém concluir o assunto): “...Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”. – versos 24 e 25
Somos todos miseráveis. Estamos todos dentro do mesmo barco e ele está fazendo água. Temos como opções pular fora sem se importar com o resto, discutir acaloradamente para descobrir quem fez o buraco inicial enquanto o barco afunda ou deixarmos nossos melindres de lado e juntos buscarmos a salvação de tão grande naufrágio gerado por nossa natureza humana.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Paulo, Dostoiévski e a podridão humana
4 comentários:
Anônimo, eu não sei quem é você, mas o Senhor te conhece muito bem. Sendo assim, pense duas vezes antes de utilizar este espaço LIVRE (poderia bloquear comentários de anônimos mas não o faço por convicção pessoal e direção espiritual) antes de ofender quem quer que seja. Estou aberto para discutimos idéias sem agredir NINGUÉM ok? - Na dúvida, leia mil vezes Romanos 14, até ficar encharcado com a Verdade sobre este assunto...
João, rpz...
ResponderExcluirCê tá muito profundo!
Vou deixar pra ler de novo cedinho que tico e teco estarão mais descansados rss
Afffff
Ah, eu respondi sua cordial missiva auhuhauhaa
Vá lá, vá. (Entenda, não é pra lavar nada :P)
bj
R.
Dãããã.........
ResponderExcluirJ.C
ResponderExcluirPra vc não dizer que não escrevi nada novo ultimamente, eu alterei o texto lá da entrada
rss
Mas me aguarde :)
bj
R.
Meu caríssimo e estimado amigo João!
ResponderExcluirBeleza de texto meu camarada! Fala de dois "caras" que gosto muito. E de algo que eu gosto mais ainda: graça.
A melhor coisa que aprendi e estou aprendendo a cada dia, lenta e gradativamente, é que sou apenas um pecador miserável que necessita urgenmtente da graça do bom Pai. Por isso, parabéns ao seu texto, que reflete o que eu penso e sinto.
E olha aqui meu, vocês estão muito sumidos do meu blog, que negócio é esse (você e a Regina)? Tenho dois posts lá sobre criacionismo/evolucionismo, pela ótica de Francis S. Collins (A linguagem de Deus) que "clama" pelos comentários de ambos.
Quanto ao Dosty, você já sabe a minha opinião: o sujeito sabia escrever, especialmente sobre os dramas humanos (tendo como modelo o seu próprio drama).
Grande abraço aos queridos amigos!
Ricardo